Belém, 24 de outubro de 2009.
Não sou de lembrar de meus mortos somente no Dia de Finados! Lembro de meus mortos todos os dias em que sinto em minha vida, ao meu redor, sinais de que os tive! É claro que em Finados fica mais forte a lembrança dos meus que se foram, ainda mais por ser data metida entre Círio e Natal, quando já descemos a ladeira de sentimentos e recordações que só vai terminar depois de passado o ano.
Meus mortos são a prova de que a vida é breve mas o amor é eterno. E é assim que lembro do meu avô, que morreu levantando para trabalhar; e de minha avó, que morreu escondendo sua dor para não dar trabalho e não amedrontar; e de minha tia, que quando soube com toda a certeza que morreria, resolveu não acreditar em certezas e viveu o que tinha para viver.
Os três marcaram minha vida à sua maneira, e cada qual me mostrou um pouco do que tinha para ser aprendido. Foi assim que tive mostras de liderança pela força, mas também pelo amor; e que tive provas de que se pode perdoar quem te faz mal, mesmo que o mal tenha ferido fundo; e foi assim que eu tive provas de que bondade é algo que permanece, mesmo depois de nos tornarmos o pó mais tenuíssimo.
Mas o melhor ensinamento, o que meus mortos me deixaram de mais importante, foi a prova definitiva de que a vida sempre vale a pena e de que a morte não resolve problema algum. Afinal, problemas são resolvidos com encaramento, com enfrentamento, e a morte, quando querida ou aceita, é fuga! Meus mortos lutaram pela vida de uma forma admirável, mesmo quando sabiam que a vida não era mais possível. E mesmo quando talvez a vida nem fosse mais querida, lutaram!
E hoje há o nome que ficou, lembrança que carrego nos documentos e que me é constante; e havia um pequeno livrinho de oração, antigo missal, que vez ou outra abria para usar em uma reza que nunca soube; e, algumas vezes, ainda me pego estacionado na frente da Celina, perto do Hotel Farol em Mosqueiro, final da tarde, olhando para o pátio onde conversávamos, esparramados em cadeiras de embalo, enquanto esperávamos o café com leite ficar pronto.
De meu avô sei aonde fica a pedra fria que é seu tumulo. Sempre que visito o Santa Izabel acabo encarando meu nome marcado no mármore, e tenho vontade de fazer como nos bons tempos do banho de piscina de sábado, na rua cheia de mangueiras e cigarras, sentar e contar sobre minha vida. Os bisnetos ele não conheceu, mas tento dizer que são bons meninos, obedientes e cheios de saúde, e tenho certeza que ele ficaria feliz.
De minha avó perdi na memória as pistas de onde a deixamos, e preciso lembrar de perguntar a meu pai onde ela está, na imensidão de túmulos, ruas e árvores velhas.
De minha tia não temos tumulo: quis ter suas cinzas jogadas nas águas barrentas da Prainha, do rio que banha Mosqueiro, por trás do antigo Hotel que lhe serviu de vista e de passeio. Hoje gosto de acreditar que ela faz parte do lugar em que escolheu viver sua morte, e me resta sentar em uma pedra, na margem, e ver o rio passar.
Pessoas morrem e isso é normal! E com o tempo morre também a lembrança, pois ninguém mais sobra para lembrar. E os nomes que significavam todo o amor do mundo passam a ser meros nomes impressos em antigas certidões e carnês de impostos de velhas casas de família. E é por isso que escrevo: por que me resta o agora e a lembrança ainda está bem viva comigo. E tenho tempo para dizer a todos que fui muito amado! E que muito amei!
Não sou de lembrar de meus mortos somente no Dia de Finados! Lembro de meus mortos todos os dias em que sinto em minha vida, ao meu redor, sinais de que os tive! É claro que em Finados fica mais forte a lembrança dos meus que se foram, ainda mais por ser data metida entre Círio e Natal, quando já descemos a ladeira de sentimentos e recordações que só vai terminar depois de passado o ano.
Meus mortos são a prova de que a vida é breve mas o amor é eterno. E é assim que lembro do meu avô, que morreu levantando para trabalhar; e de minha avó, que morreu escondendo sua dor para não dar trabalho e não amedrontar; e de minha tia, que quando soube com toda a certeza que morreria, resolveu não acreditar em certezas e viveu o que tinha para viver.
Os três marcaram minha vida à sua maneira, e cada qual me mostrou um pouco do que tinha para ser aprendido. Foi assim que tive mostras de liderança pela força, mas também pelo amor; e que tive provas de que se pode perdoar quem te faz mal, mesmo que o mal tenha ferido fundo; e foi assim que eu tive provas de que bondade é algo que permanece, mesmo depois de nos tornarmos o pó mais tenuíssimo.
Mas o melhor ensinamento, o que meus mortos me deixaram de mais importante, foi a prova definitiva de que a vida sempre vale a pena e de que a morte não resolve problema algum. Afinal, problemas são resolvidos com encaramento, com enfrentamento, e a morte, quando querida ou aceita, é fuga! Meus mortos lutaram pela vida de uma forma admirável, mesmo quando sabiam que a vida não era mais possível. E mesmo quando talvez a vida nem fosse mais querida, lutaram!
E hoje há o nome que ficou, lembrança que carrego nos documentos e que me é constante; e havia um pequeno livrinho de oração, antigo missal, que vez ou outra abria para usar em uma reza que nunca soube; e, algumas vezes, ainda me pego estacionado na frente da Celina, perto do Hotel Farol em Mosqueiro, final da tarde, olhando para o pátio onde conversávamos, esparramados em cadeiras de embalo, enquanto esperávamos o café com leite ficar pronto.
De meu avô sei aonde fica a pedra fria que é seu tumulo. Sempre que visito o Santa Izabel acabo encarando meu nome marcado no mármore, e tenho vontade de fazer como nos bons tempos do banho de piscina de sábado, na rua cheia de mangueiras e cigarras, sentar e contar sobre minha vida. Os bisnetos ele não conheceu, mas tento dizer que são bons meninos, obedientes e cheios de saúde, e tenho certeza que ele ficaria feliz.
De minha avó perdi na memória as pistas de onde a deixamos, e preciso lembrar de perguntar a meu pai onde ela está, na imensidão de túmulos, ruas e árvores velhas.
De minha tia não temos tumulo: quis ter suas cinzas jogadas nas águas barrentas da Prainha, do rio que banha Mosqueiro, por trás do antigo Hotel que lhe serviu de vista e de passeio. Hoje gosto de acreditar que ela faz parte do lugar em que escolheu viver sua morte, e me resta sentar em uma pedra, na margem, e ver o rio passar.
Pessoas morrem e isso é normal! E com o tempo morre também a lembrança, pois ninguém mais sobra para lembrar. E os nomes que significavam todo o amor do mundo passam a ser meros nomes impressos em antigas certidões e carnês de impostos de velhas casas de família. E é por isso que escrevo: por que me resta o agora e a lembrança ainda está bem viva comigo. E tenho tempo para dizer a todos que fui muito amado! E que muito amei!
5 comentários:
Belo texto Nando, belo texto.
Preciso muito trabalhar esse assunto: MORTE. Até hj fui polpado dessa dor, nunca perdi ninguém que amo, aqueles do coração sabe?... sei que faz parte do ' curso natural das coisas' e que a vida segue para os que ficam. Mas...
Well, é bem mais fácil falar no imagino sobre a " minha vez" rs.
Nada de velório, não quero q minha última lembrança seja esta... e as cinzas? Elas devem ser jogadas no mar de minha Fortal.
E tenho dito.
Eu, infelizmente, já passei por essa dor algumas vezes, mas isso não quer dizer que saberei passar por ela mais uma!
A que mais me marcou foi a morte de meu avô. Meu segundo pai! Já são 16 anos desde a sua ida, mas lembro como se fosse hoje! Difícil e previsível na época.
Temos que continuar, não é? Só nos resta a lembrança mesmo.
W,
O pior é que nunca estamos prontos para a perda. Podemos ate imaginar que sim, trabalhar em nossas cabeças e sermos budistas (trabalhar a impermanência), mas quando somos colocados cara a cara com a menor possibilidade, desabamos. Recentemente passei por isso, uma pessoa muito querida que adoeceu e fraquejou. Mesmo estando preparado para o pior, não aguentei e, sozinho, chorei muito com medo!
Primo, adoro vir aqui e dar uma olhadinha nos teus textos, sempre anonima, mas presente.
Hoje sai do anonimato, pois a emocao de ler o que esrevestes sobre o vovo foi tao forte que nao pude me conter...... chorei muito e me dei conta do quao imensa pode ser uma saudade. Amo voce.... muito. Beijos
Agora quase foi minha vez, contido o choro indesejável em meio a pastas e papeis.
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