segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A mira permanente

Belém, 23 de novembro de 2009.

Certas coisas me embrulham o estômago!

Uma delas, quem sabe a maior de todas, são pessoas que têm consciência de sua falta de ética, de terem o caráter podre, e não se importam com isso. Temos então o grande pilantra, o devedor de metal e de moral que sabe estar fazendo calhordices e não se importa, flana e baila pelos cantos como se fosse o bom, a pessoa bacana que de todos recebe elogios, aquele que se admira. Minha mãe sempre disse que para conhecer alguém de fato são duas as situações: morar e viajar junto!

É verdade!

Dividindo o mesmo teto sabemos como a pessoa se comporta na intimidade, como ela é quando não tem ninguém olhando, o momento em que ela pode ser sua essência, o “não se importar” finalmente solto! Nada melhor para descobrir sobre o caráter de uma pessoa do que a louça que acumula na pia, o banheiro que fede a mijo, o lixo que entope no cesto com sujeira sua; tudo isso solenemente ignorado com o fingimento do “não ver” e “não sentir”, a pessoa que deixa de beber água por falta de copo limpo, a inacreditável incapacidade de lavar os que ocupam a pia.

E viagem geralmente é momento desgastante, as situações de estresse e cansaço que levam a pessoa ao último grau de seu disfarce, a mascara que cai diante dos pés que doem e da mala que pesa, da espera interminável e do dinheiro que acaba. Já conheci quem “esquecesse” sua mala, descaramento mais completo, a certeza de que o outro perceberia o deslize e providenciaria a subida, os degraus intermináveis com a mala nas costas, o fardo que chega recebido por interjeições de espanto e surpresa: “como pude...?”

Pôde! Isso basta!

Nestas pessoas o melhor é o “não poder se esconder para sempre”, a finíssima mascara de cera que se desfaz com o calor da patifaria, a cera que derrete e escorre pela cara ao invés de lágrimas de arrependimento que nunca virão! E ao se revelarem, surge-nos a possibilidade de afastar do murro, o soco certeiro sempre mirando a boca do estômago, justo o golpe que embrulha e anseia o vômito!

O que mais me choca é não conseguir realizar tais maldades caladas alma e boca! Quando as fiz, pois sou capaz de muitas ruindades, vi meus atos e não me reconheci, sobretudo a vergonha de minha mãe com sua primorosa tentativa de educação, tanto esforço, e eu jogando tudo fora. E quando percebi o erro, e fatalmente percebi, calado chorei e arrependi, tentei atitude qualquer que resolvesse, que acalmasse. Hoje não sei se consegui sempre, em alguns casos sei mesmo que não, mas pelo menos reconheci o erro, me nomeei canalha em tudo e, mesmo assim, não dormi bem minhas noites, a cabeça que afundava pesado no travesseiro, a esganadura dos pensamentos difíceis de engolir.

Por isso tudo me pergunto: como eles conseguem dormir bem, acordar pela manhã e dizer “bons dias?” Não sei como fazem mas sei que conseguem! E vamos vivendo os nossos dias, o olhar atento e vigilante, sempre presente a ameaça do soco que mira insistentemente a boca do estômago!

11 comentários:

. disse...

E tem nêgo que é tão cara de pau, mas tão cara de pau, que vai ler este texto e só será capaz de enxergar o outro. Nunca ele mesmo.

Lu disse...

é, tem muita gente assim espalhada por ai...

Tanto disse...

Waleska, esse é o pior ponto, as pessoa que são iguais, sem tirar nem por, e que vão ler achando que se trata do outro. Escrevi esse texto, assumo, em momento de grande raiva depois de falar com meu pai, homem bom que vem sofrendo na pele de um patife destes! Foram os minutos necessários para escrever e não gritar, no meio de banco.

- Elis - disse...

Ela já disse tudo: "E tem nêgo que é tão cara de pau, mas tão cara de pau, que vai ler este texto e só será capaz de enxergar o outro. Nunca ele mesmo."

O Gnomo Verde disse...

enxe logo de porrada um fresco desse que da jeito. Nunca mais mexe! rapaZ, Me da um odio de certas pessoas

Anônimo disse...

Droga, vou ter de ir agora, oo:13, lavar minha louça.... humpf

Odeio lavar a louça, mas dou bom dia rs

Tanto disse...

Acho que é normal não gostar de lavar a louça! Mas deixar na pia, dias a fio, criadouro de bichos... outra coisa...hahahaha

Que bom saber que o anônimo dá bom dia! Um anônimo educado! parabens! rs

Anônimo disse...

Opa, O anônimo acima foi eu, q esqueceu de colocar o W no fim :P

Qto a louça suja é o seguinte, a diarista passa uma vez por semana, as vezes a cada 10 dias , a louça se resume a copos pq comida mesmo só faço qdo ela vem no dia seguinte rs Mas confesso que deixo de fazer comda no fds só pq nao quero ter de lavar depois... ODEIO LAVAR LOUÇA!
kkkkkk

W

W

Mari Tupiassu disse...

A humildade de reconhecer, demonstra, no mínimo, a expansão de nossa consciência.

Todos nós temos alguma coisa pra pensar sobre os nossos travesseiros. O lance é o que se pensa.

Algumas pessoas não se enxergam. Não se olham no espelho! Não se admitem!

Comum Tanto! Muito comum!

E muito bom o texto!

Luana Castro disse...

Erramos sim. Todos erramos. Normal. O que nos torna diferentes de outras pessoas é justamente a atitude de reconhecer e, a partir daquele momento, agir de outra forma.

O pior de tudo mesmo é saber que magoamos pessoas queridas.

Ótimo texto para uma reflexão! Gostei muito!

Tanto disse...

A pior parte é magoar pessoas queridas... pessoas boas, excelentes, que não merecem... conviver com isso é o pior, culpa constante!