quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Meu desejo a todos

Sabedoria! Muita sabedoria para todos vocês

Palavras do ano + etimologices = Retrospectiva

Janeiro - Demissão - "Demissão" vem do latim demissio, demissionis, com sentido de "queda", "rebaixamento", "interrupção". O ano mal começa e a palavra já assombra o planeta, com o agravamento da economia global. Como consequência da crise, a sensação de rebaixamento contida na palavra "demissão" ganha corpo com os níveis de pressão no trabalho, os programas de desligamento voluntário e os sacrifícios pessoais pela manutenção do emprego. E ganha também um símbolo na onda de suicídios corporativos da France Telecom, divulgados inicialmente em janeiro e que até outubro responderia por 25 casos

Fevereiro - Fraude - A advogada brasileira Paula Oliveira, de 26 anos, denuncia às autoridades suíças ter sido vítima de um ataque xenófobo numa estação de metrô em Zurique. A agressão, que ela atribuiu a skinheads, teria resultado num aborto. Com isso, o clima pesou nas relações diplomáticas entre Brasil e Suíça, e o tema da xenofobia europeia voltou à tona. Até que finalmente a farsa é descoberta: médicos legistas concluíram que a jovem mutilara o próprio corpo. A brasileira foi indiciada por mentir às autoridades, punição por uma fraude (do latim fraus, fraudis, "erro", "ação de iludir") de implicações diplomáticas.

Março - Excomunhão - O arcebispo de Olinda e Recife, D. José Cardoso Sobrinho, causou espanto ao excomungar uma menina de 9 anos que, de maneira legal, abortara gêmeos - concebidos após sucessivos estupros cometidos pelo padrasto. "Excomunhão", pela etimologia do latim eclesiástico, vem de excommunio, onis e, em sentido figurado, equivale à exclusão de uma pessoa de dado grupo.

Abril - Passagem - A denúncia do uso irregular da cota de passagens aéreas por parlamentares vira tema obrigatório no país. Não era preciso prestar contas de bilhetes, destinos e valores. O escândalo envolveu até nomes graúdos da política, como Tasso Jereissati e Fernando Gabeira, que pediu desculpas pelo gasto indevido. Quase premonitória, a palavra "passagem" não esconde a origem francesa: o significado de passage remonta a "desfiladeiro na montanha", e foi ao abismo do trem da alegria que os parlamentares foram lançados ao cair na boca do povo.

Maio - Gripe - O termo contagiou os mais diversos meios de comunicação, que passaram a alertar as pessoas sobre as formas de transmissão da gripe suína com frequência diária. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), as perspectivas eram de uma genuína pandemia e uma dúvida semântica: em meio ao alarde, as autoridades de saúde discutem o tratamento a ser dado pela mídia à doença e "gripe A" termina por substituir "suína". A disseminação no idioma também era passível de controle.

Junho - Acidente - A notícia de uma catástrofe aérea voltou a assombrar o imaginário do brasileiro. Um avião da Air France que ia do Rio de Janeiro a Paris sumiu no oceano, próximo ao litoral de Fernando de Noronha. Por ter caído em alto mar, o acesso das equipes de resgate aos destroços foi difícil e as buscas arrastaram-se por dias até que se dessem por encerradas. O acidente resultou em 228 mortes, 58 delas de brasileiros. O termo remonta ao latim accidens, entis, "o que sucede", particípio presente de accidere, "cair".

Julho - Ato secreto - A descoberta de esquema no Senado de favorecimento de servidores e gastos não publicados no Diário Oficial fica conhecida como "ato secretos" porque só os "interessados" sabiam de sua existência. "Ato" vem do latim actus e quer dizer "movimento", "impulso" ou "andamento". Já "secreto" remonta ao latim secretus, a, um, "apartado", "distinto", "especial", sentido que parece soar melhor aos ouvidos dos políticos, que se julgam acima dos mortais, do que algo feito às escondidas justamente por ser ilícito.

Agosto - Factoide - Dois factoides tomam o mês. Um foi o erro de português de Sasha (foto abaixo), filha de Xuxa, no Twitter. Ao escrever "cena" com s, a menina virou alvo da intolerância dos internautas. Outro caso foi a suposta politização da Receita Federal pelo governo Lula, hipótese que, mais tarde, não encontraria respaldo nem na oposição. Segundo o Aurélio, factoide é "fato, verdadeiro ou não, divulgado com sensacionalismo" para gerar impacto. De origem grega, o sufixo "oide" pode conter teor pejorativo.

Setembro - Marolinha - O anunciado tsunami da crise mundial acabou mesmo em "marolinha" no Brasil. O diminutivo de "marola", usado por Lula para amenizar reflexos da crise na economia brasileira, indicou um otimismo que foi execrado no fim do ano, mas que em setembro lhe rendeu elogios internacionais. O jornal Le Monde, por exemplo, lhe atribuiu uma "visão correta" do cenário econômico. O processo de formação da palavra "marola" é semelhante ao de palavras como "bandeirola" e "camisola", que vão para o diminutivo com o acréscimo do sufixo de origem latina -ola.

Outubro - Olimpíadas - A mídia norte-americana bem que tentou jogar areia na candidatura do Rio de Janeiro a sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Em vão. Pela primeira vez, o Comitê Olímpico Internacional anuncia a cidade como a contemplada. O termo "olimpíadas" vem do latim olympias, adis, que por sua vez derivou do grego olumpiás, ádos, e quer dizer "espaço de quatro anos".

Novembro - Expulsão - Quase linchada por 700 estudantes ao usar um minivestido rosa na Uniban de São Bernardo do Campo (SP), onde cursava turismo, Geisy Arruda acabou expulsa da universidade por dois dias. Com a repercussão do caso, a universidade revogou a expulsão. Do latim expulsio, onis, o termo equivale à ação de repelir, lançar com violência, como o ato violento de alunos e direção da universidade paulista.

Dezembro - Ataque - Em Albina, Suriname, na noite de Natal, um brasileiro foi acusado de matar um surinamês de origem quilombola. Tal fato gerou uma onda de ataques e, segundo testemunhas, cerca de 200 brasileiros e chineses que viviam na região, a 150 km de Paramaribo, foram agredidos com facões, paus, pedras e machadinhas . O ataque deixou 25 feri­dos, e 19 brasileiras dizem ter sido estupradas. Ataque significa assalto ou investida, impugnação ou acusação, altercação, agressão. Deriva do italiano, attaccare.


Fonte (menos o mês de dezembro) - Revista da Língua Portuguesa.

Palavra do Dia n.º 17

A palavra de hoje é...

Jucundo
(latim jucundus, -a, -um)
adj. 1. Que é agradável, aprazível. 2. Que demonstra alegria, jovialidade.

Sinónimo Geral: prazenteiro

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Reflexão de fim de ano

23 de dezembro de 2009.

Antes eu era jovem e desejava ter na cara a barba mal feita do galã de cinema, o ar de conquistador rebelde e independente. Mas apesar do querer não tinha na cara mais do que cinco míseros fiapos, o rosto tal qual bunda de criança, e acabei não sendo um jovem barbudo. Hoje tenho mais fiapos do que os cinco que me foram sempre fieis, mas acho que a idade já não combina com a rebeldia do galã de cinema.

Antes eu tinha todos os sonhos de viagens e aventuras por lugares maravilhosos e desconhecidos, a constante ameaça interna de colocar as coisas na mochila e partir. Mas apesar de ter todo o tempo do mundo, não tinha o dinheiro que desse para a mais curta ida a lugar qualquer. Hoje há dinheiro e não há tempo, o trabalho esfalfante com parcos feriados, os dias trabalhados até quase as festas de sempre chegar tarde.

Antes eu dormia a tarde inteira, o nada a fazer embalado pelo mormaço que batia no quarto, o calor lento que era deixado de lado pelo sono pesado, maciço. Hoje tenho correrias de re-matrículas dos filhos, materiais de construção sem fim, sufocos e compromissos, o só dormir como desejo nos finais de semana de sono corrido, sono sem preocupações quando sem compromissos.

Mas não achem que só de pioras tem sido a vida.

Hoje tenho casa minha, casa torta mas com lajotas escolhidas uma a uma, as cores que eu quis nas paredes, as coisas que acho serem parecidas comigo pelos poucos cantos da sala apertada.

Hoje tenho emprego bom e certo que me permite pagar tudo e ter ainda alguns pequenos luxos. É emprego trabalhoso, certamente, mas que é sempre melhor do que não ter emprego!

Sobretudo tenho filhos, e com eles entendi o sentido que se deve dar à vida! Carlos mora longe, a dor de sempre ao lembrar da distância, a vontade de não largar quando o abraço está feito mesmo que se debata o moleque, ânsia de fugir do pai e ir brincar. Maria mora perto, companheira de passeio e compras todas, opinião que já se leva em conta pela vontade imposta, minha criatividade nos presentes de Natal, bronca feita se visto o que ela não gosta.

E se sinto falta do que já tive e vivi, sou pleno com o que tenho hoje e por nada trocaria. A vida é assim, cada coisa a seu tempo, e hoje sei que vivo o que devo viver. Não poderia ser, para sempre, o moleque impúbere sem barba na cara, sem dinheiro no bolso e avesso a responsabilidades.

E que me venham os deveres, os quereres dos filhos e as marcas do tempo no rosto. Estou aqui para isso e disso não fujo.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Merece ser lido

Esse texto da jornalista francesa Pascale Robert-Diard foi publicado pela Folha de São Paulo, do original no Le Monde, em 26 de dezembro de 2009. Merece ser lido pelo intensa imagem de humanidade que passa, uma pessoa que deixa de ser mais uma por ter deixado de tratar os outros como mais uns. É grande, mas leiam. Verão que vale cada minuto perdido (a tradução é de Lana Lim).

Quartos com vidas, ao lado de uma penitenciária francesa
Pascale Robert-Diard

Foi uma assistente social de Lannemezan (Altos Pirineus) que teve a ideia. Ela conversou a respeito com a administração penitenciária, que considerou a homenagem merecida. Em 17 de novembro em Béziers (Hérault), penduraram uma fita verde com divisas roxas e uma medalha de prata na lapela da jaqueta de Nadine Cistac, dona de hotel. "Honra penitenciária", ela leu em voz alta girando a medalha entre seus dedos. Depois guardou seu grande sorriso de fumante porque não quer que vejam o quanto está orgulhosa. "Não é tanto por mim", ela diz, "é por elas".Elas são as pensionistas do hotel. Fanny a loira, Denyse a discreta, a bela Anne-Marie. Ou ainda Michèle, Maria, Henriette, Helyette. Sinais distintivos: mulher, companheira, mãe, irmã ou namorada de detentos. Uma vez por mês, às vezes duas, elas fazem a viagem a Lannemezan. Chegam de trem ou de carro na sexta-feira à noite e só precisam atravessar a rua para abrir a porta do Hôtel de la Gare.

Nadine Cistac não quer saber as razões que levaram os familiares de Fanny, Anne-Marie e outras hóspedes à prisão próxima do seu hotel. "Nunca coloquei os pés na prisão. Não quero entrar nesse mundo. Estou aqui para elas, não para eles". Mas da vida delas, sabe quase tudo

Como descrever a alegria estrondosa do "bom dia!" que as recebe nesse sábado de dezembro? Ou ainda o beijo que estala em suas bochechas, o riso, a bebida servida na mesa, a cadeira que ela puxa para se sentar e ouvir as novas, a chave do quarto que ela tira do quadro e lhes dá sem que lhe peçam - sempre a mesma, a 3 para Denyse, a 9 para Michèle, a 6 para Fany, a 4 para Helyette - , a fraternidade do olhar que as protege?

Nadine Cistac nasceu ali, há 54 anos, logo acima do bar. Seu bisavô abriu o hotel em 1918, seu avô assumiu, depois seu pai e sua mãe. Quando chegou sua vez, ela só mudou o primeiro nome na fachada. Quanto ao resto, quase nada mudou. As mesmas escadas de madeira rija levam aos dois andares do hotel, o chão fatigado do corredor range sob os passos e, nos quartos, cortinas de renda barata filtram a luz que bate em tapeçarias desbotadas.

Em 1987, quando o conselho municipal de Lannemezan teve de se pronunciar sobre a construção de um centro penitenciário destinado a receber os presidiários de penas longas, o pai de Nadine Cistac foi o único a votar contra. Ela compartilhava de seus temores. "Eu pensava que toda a ralé apareceria". O Hôtel de la Gare primeiramente se encheu de operários que vieram trabalhar nas obras da prisão. Depois as primeiras mulheres de detentos chegaram. "No início, eu as cumprimentava mas mantinha distância. Depois, me dei conta de que essas mulheres eram como eu. Agora, posso lhe dizer, eu não julgo mais". E acrescenta: "Você não imagina a felicidade que é!"

Ela não quer saber das razões que levaram seus homens a Lannemezan. "Nunca coloquei os pés na prisão. Não quero entrar nesse mundo. Estou aqui para elas, não para eles". Mas da vida dessas mulheres, ela sabe quase tudo. Algumas deixam suas malas durante anos no Hôtel de la Gare. É no olho de Nadine que elas confiam quando, arrumadas, maquiadas e decotadas, deixam seus quartos para ir até a sala de encontros da prisão: "Olha. Não está estranho?" "Você está ótima! Pode ir!"

Se chove ou se os saltos estão altos demais para pegar o caminho que, ao longo da via férrea, leva à prisão, Nadine Cistac chama seu filho caçula, Rony, um rapaz tão alegre quanto sua mãe, ou um dos frequentadores sentados no bar. "Depois que terminar seu café pode levá-las de carro?", ela pergunta. Ela aguarda sobretudo a volta, quando o sorriso se apagou e a vida, de repente, pesa sobre os ombros dessas mulheres. "Vi gerações de bebês concebidos na prisão. Acompanhei gestações, esquentei mamadeiras, vi as crianças crescerem. Como você quer que eu não me apegue? As únicas que não entendo são as que vêm pelos classificados. Quando Patrice Alègre (condenado à prisão perpétua por cinco assassinatos) estava na cadeia, recebi no hotel mulheres, belas mulheres, que vinham por ele. Nesse caso desisti, confesso", ela conta.

Neste sábado, temos Fanny, "uma pequena novidade" que vem há um ano. Ela vive em Marselha, cria sozinha sua filha e coloca todas suas economias na passagem mensal de trem e na noite de 30 euros no Hôtel de la Gare. Temos Anne-Marie, também vinda de Marselha, que reserva seu quarto duas vezes por mês, sempre acompanhada de um ou dois de seus 13 filhos, para reconfortar seu irmão detento. Há Denyse, a militante, que toma regularmente o trem noturno a partir de Paris para dividir algumas horas de visita "com Georges" (Ibrahim Abdallah, condenado à prisão perpétua em 1987 por terrorismo). Ela vem sentada, pois a passagem leito é cara demais. "Mas como estou aposentada, posso descansar durante a semana", ela diz com um sorriso.

"Essas mulheres são direitas, elas progridem, elas me surpreendem", suspira Nadine Cistac. Elas devolvem o elogio. "Aqui há pessoas simples, como eu", conta Fanny. "Saímos da visita desanimadas, mas Nadine sempre diz alguma coisa engraçada". "O ambiente da prisão é nocivo, humilhante. Quando saímos de lá, precisamos de conforto. Nadine nos deixa à vontade, ela combate os 'efeitos colaterais' da visita. Na minha terceira estadia, ela já sabia o que eu tomava no café-da-manhã. É algo simples, mas nunca houve indiferença neste lugar", confirma Denyse.

Nadine Cistac certamente tem suas preferidas. Como Helyette Bess, ex-militante da Ação Direta, que durante dez anos hospedou-se mensalmente no hotel para visitar Jean-Marc Rouillan. Depois, ele foi libertado e encarcerado novamente na prisão de Muret, perto de Toulouse. Mas todos os domingos Helyette Bess telefona para dar notícias. E sobretudo há Maria, a velha mãe de um nacionalista da Córsega. "As esposas, as companheiras, bem, é a vida delas. Mas uma mãe assim, não é a mesma coisa, é a mais bela de todas!", ela exclama. Nadine Cistac foi passar alguns dias na Córsega em sua casa. "Ela fez questão de me dar seu quarto. Ao lado de sua cama ficava sua mala, aquela que ela sempre usa para vir aqui. Quando a vi daquele jeito, toda pronta, aquilo acabou comigo".

Entra um casal pela porta do bar. Alain e Henriette. Eles abraçam Nadine Cistac, vão beijar sua mãe, Giselle, que faz palavras-cruzadas na cozinha, brincam com Rony, pedem notícias do filho mais velho, que está... na polícia. Henriette, hóspede do Hôtel de la Gare durante dez anos. Alain, condenado à prisão perpétua, em liberdade condicional há alguns meses. Ele conta, "Nadine foi a primeira pessoa que quis encontrar quando saí. Eu só conhecia sua voz, pelo telefone, quando ligava para o hotel. Mas minha mulher falava dela o tempo todo. Na prisão, todos sabem quem ela é. Quando chegam os novatos, recomendamos a eles o Hôtel de la Gare porque sabemos que ali as mulheres e as famílias são bem recebidas". "Eu vinha a cada quinze dias", diz Henriette. "Quando eu avisava a Nadine que não podia subir, pois estava mal financeiramente, ela me dizia: Venha, não tem problema!" E quando fiquei doente, ela me ligou no hospital. Só aqui se vê isso".

Quando Alain foi transferido para a prisão de Muret, para preparar sua libertação, Henriette continuava a vir dormir em Lannemezan, "porque em Muret tem hotéis, mas não tem a Nadine", ela diz. Desde que Alain foi libertado, o casal volta regularmente. Ali ele encontra Jean-Marie, ex-carcereiro da prisão que se tornou um dos melhores amigos de Alain.

De um armário atrás do bar, Nadine tira sua caixa de tesouros. Cartas recobertas por escritas desajeitadas, que chegam para ela "do outro lado do muro" para lhe agradecer ou lhe desejar um feliz ano novo. "Meus armários estão cheios de presentes. Vasos da Provença, cinzeiros, potes de picles... Poderia fazer um enxoval com isso!", ela diz aos risos. Ela se lembra de um detento, libertado após trinta anos de prisão. "Ele me ligou um dia para avisar que estava saindo. Ele me disse: 'Faço questão de lhe agradecer enquanto ainda estou atrás dos muros. Depois, o telefonema não terá o mesmo valor". Deixamos o grupo, Alain, Henriette, Anne-Marie, Denyse, rindo e lembrando das noites de pizza e partidas de cartas com Nadine Cistac.

Em outro canto da sala, os frequentadores bebem uma taça de Tariquet, o único vinho branco do hotel. Há o empregado da SNCF [companhia ferroviária nacional] que Nadine Cistac apelidou de "o Azarado", pois há anos eles apostam juntos todos os domingos 2 euros nos cavalos, e nunca ganharam nada. Também há "Phiphi", que hospeda-se há cinco anos no Hôtel de la Gare para ficar mais perto de sua mãe doente. Ela morreu, e ele ficou. Seu quarto é vizinho ao de um carcereiro do presídio, que dorme duas ou três vezes por semana no hotel há 22 anos. Também há Georges, que limpa sua mesa antes de sair. O rádio solta uma canção de Hervé Vilard. "Aumente o volume, adoro essa!", diz Nadine.

E assim vai o pequeno mundo do Hôtel de la Gare. Sente-se o cheiro acre do tabaco frio nos cinzeiros cheios. Do sanduíche de patê. Do perfume forte das mulheres na escada. Do café e do vinho branco. Da madeira encerada e do carpete gasto. Da grande solidão e das manias. Sente-se o cheiro forte de humanidade.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Palavra do Dia n.º 16

Sem saber que essa profissão tinha nome, quis ser quando criança. E com vocês, a ganhadora de palavra do dia é...

Cornaca
(cingalês kuruneka, chefe de manada de elefantes, amansador de elefantes)
s.m.
Condutor ou tratador de elefantes.

P.s.: Eu já quis um elefante de Natal e Papai Noel não me deu.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Golpe de misericórdia

Minha derradeira tentativa de acabar com o Natal. Aposto que depois desse vídeo muitos perderão o espírito natalino (se não, pelo menos riam como eu ri!). via Chongas.

Lula e sua cartinha

Carta do Lula ao velho Noel (via KibeLoco).

Extra! Extra!

Segundo o Capinaremos, o Natal foi cancelado!


Cartinhas de Natal

Olha o que o bom velhinho faz com sua carta...

ho ho ho - tomara que não seja minha cartinha

Dica natalina do Adriano Diniz

Deus é fiel a quem, cara pálida?

Texto publicado originalmente na Folha de São Paulo, mas ""chupado" do Blog do Allan Sieber.

Deus é fiel - Cláudio Guimarães dos Santos

Eis uma frase que vemos, atualmente, estampada por toda a parte. Mas, afinal, o que diabos significa dizer que Deus é fiel?

EIS UMA frase que vemos, atualmente, estampada por toda a parte: dos gigantescos outdoors aos vidros dos automóveis, sem falar dos templos, das traseiras de caminhões e das faixas ostentadas nas passeatas pop-evangélicas. Num outro momento e lugar, esse fato talvez não merecesse maiores considerações. Afinal, fanatismo religioso e proselitismo exagerado sempre houve neste "mundo de meu Deus", e por sua causa já muito se matou e se morreu. Todavia, não podemos esquecer que é de um "ungido" Brasil pré-eleitoral que estamos falando, ele mesmo situado numa América Latina "consagrada" a líderes messiânicos que se creem mais do que deuses. E, se apenas alguns deles ousam ser tão blasfemos a ponto de se compararem ao próprio Cristo, todos eles, sem exceção, desejam ver os seus mandatos religiosamente prorrogados "até o final dos tempos". Ou, se tal não for possível, devido às manobras da "maligna" oposição, esperam ao menos passar a faixa presidencial para o discípulo ou a discípula mais amada, na esperança de que, em breve, possam voltar -ressuscitados- ao poder que idolatram de forma luciferina. Cabe-nos, portanto, investigar, ainda que brevemente, o que diabos significa dizer que Deus é fiel. Em primeiro lugar, não deixa de ser notável que, num mundo onde a infidelidade sempre foi a regra dominante (se é que desejamos ser fiéis à verdade), se procure atribuir a Deus, com especial relevância, não a qualidade de ser bondoso ou justo, mas a de ser fiel. E isso precisamente numa época em que reina a publicidade -a "sacerdotisa-mor" da mentira, a "deusa-mãe" do engodo- e na qual amigo trai amigo, os sacerdotes traem os seus rebanhos, os políticos os seus eleitores, os comerciantes os seus clientes etc. Não seria isso, talvez, algum tipo de "projeção compensadora", semelhante às discutidas por Freud, Marx, Nietzsche e Feuerbach, que visaria, ao jogar toda a luz sobre a divina perfeição, ocultar nas sombras a podridão humana? Por outro lado, quando dizemos que Deus é fiel -supondo que saibamos, na teoria e na prática, o que é fidelidade-, na mesma hora nos vem à mente uma questão: a quem, nesse caso, seria Ele fiel? Aos católicos que trucidaram protestantes ou aos protestantes que trucidaram católicos? Aos nazistas que assassinaram judeus nos campos de concentração ou aos israelenses que supliciam palestinos nos campos de refugiados? Aos muçulmanos que mataram "ocidentais" no 11 de Setembro ou aos "ocidentais" que massacram muçulmanos no Iraque e no Afeganistão? A Stálin, Pol Pot e Mao, que eliminaram dissidentes como matamos mosquitos, ou a Hitler, Mussolini e Franco, com suas terríveis atrocidades? Aos corintianos que esfolam palmeirenses (e vice-versa) ou aos cronistas esportivos que, por maldade ou ignorância, estimulam a violência nos estádios? Infelizmente, se examinarmos as coisas como de fato se apresentam -tendo a história como suprema corte, como dizia Hegel- e não com os benevolentes olhos do "outro mundo", forçoso será concluir que o Pai Eterno se mostra bem mais fiel aos que esbanjam dinheiro nos shoppings de luxo do que às crianças que se acabam nos semáforos da Pauliceia; aos que erguem as odiosas barreiras transnacionais do que aos migrantes de todas as latitudes que não se cansam de tentar atravessá-las; aos malandros que vendem a salvação neste ou n'outro mundo do que aos crédulos que tolamente a compram; enfim, aos malvados, desonestos e egoístas do que aos bons, corretos e solidários. Eu, que não sou teólogo, ouso crer, piedosamente, que Deus -se é que Ele existe- não é fiel a mortal algum, mas unicamente a Si mesmo, à Sua inextrincável complexidade, à Sua silenciosa incompreensibilidade, à Sua incognoscível natureza (incognoscível, quem sabe, até para Ele). O que nos resta, a nós mortais, se formos lúcidos, é o enfrentamento cotidiano da terrível solidão desses espaços infinitos, que tanto assustavam Pascal, e dos quais provavelmente não virá resposta alguma, sobretudo se as perguntas forem feitas por pseudossacerdotes ou por políticos de ego inflado. O que precisamos, no fim das contas, é ter coragem para lutar contra a tendência universal da humanidade a se curvar e a obedecer, que é muitíssimo maior do que qualquer eventual vontade de autonomia. Por causa dessa tendência, uns poucos "lobos" espertalhões são capazes de pastorear rebanhos gigantescos de "carneirinhos humanos", que se prostram agradecidos ao jugo do chicote, sempre contentes e -claro- fidelíssimos.

CLÁUDIO GUIMARÃES DOS SANTOS , 49, médico, psicoterapeuta e neurocientista, é escritor, artista plástico, mestre em artes pela ECA-USP e doutor em linguística pela Universidade de Toulouse-Le Mirail (França).

Coelhos suicidas e o Natal

Olhem que quadrinho lindo, bem a cara do meu Espírito de Natal. Lembrei de ter visto no Capinaremos e não pude deixar de mostrar para vocês. É da série Coelhos Suicidas do desenhista é Andy Riley. Ho ho ho

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Etimologices n.º 3

Na Antiguidade pensava-se que a icterícia, uma doença que deixa as crianças amareladas, vinha da bílis, secreção produzida pelo fígado, órgão que era chamada de "humor amargo". No latim, amargo era amargus, que no diminutivo virava amarellus, que acabou virando amarelo.

E viva o amarelo...

Meu espírito natalino

Nada descreve meu espírito natalino como esse cartoon que encontrei no Etc S/A. Não tenho gostado de pessoas com tanto espírito natalino e o que salva são os filhos, ho ho ho!

domingo, 20 de dezembro de 2009

Triste Natal em Belém

É triste perceber que Belém do Grão Pará vai sendo dominada e destruída, cada vez mais, pelo grotesco e pelo burlesco. Em época de amor e fraternidade com o próximo, todos parecem decididos a fazer a grandes festa do “jeitinho brasileiro”, um mundarel de luzes e enfeites natalinos que me são como soco certeiro no fígado, um improviso de luzes e símbolos que vão desde luas (Sim, luas! Um dos maiores símbolos do Natal) até bonecos de neve que parecem saídos do filme Caça Fantasmas.

Separados na maternidade


Se é época de amor e fraternidade não deve ser para mim, muito menos para os demais moradores da cidade, menos ainda com o coitado do bom gosto (que deve estar se retorcendo em algum canto por aí)! Em alguns lugares parece que reuniram o conjunto de sobras dos natais passados e, em ânsia de economia, acabaram por fazer surgir um novo estilo de decoração: a farofa natalina!

Exemplo do estilo farofa natalina na São Jerônimo.

Exemplo do estilo farofa natalina na Gentil.

Exemplo do estilo farofa natalina em fachada de prédio de Belém.

Em breve volta noturna pela cidade, afrontado com os exemplos mostrados acima, consigo até imaginar o dialogo que resulta nesta mixórdia de decoração:

- Fulano, temos luzes natalinas?
- Algumas!
- E dá pra fazer o que com ela?
- Deixe me ver... Acho que dá pra desenhar um porco!
- Perfeito. Então faz um porco com as luzes.

A situação fica pior com a certeza constante de que o maior propagador da Farofa Natalina é o Poder Público! O que dizer destes belos exemplares de enfeites natalinos colocados nos postes da Almirante Barroso pelo Município? O blog Domisteco dará, inclusive, um prêmio à resposta mais criativa à pergunta: que droga é essa!? (o prêmio é um exemplar do livro Eu e meu bom gosto, de Duciomar Costa).

Decifra-me ou te devoro (echarpe do Edson Cordeiro ou pijama da Elke Maravilha? O que é isso que o Município pendurou nos postes da Almirante Barroso)
E os trabalhos de colocação destas tralhas estão sendo feitos agora, pleno 20 de dezembro, Natal já na cara de quem comanda essa bagunça chamada Belém.
Caminhão colocando enfeites, 01:30 do domingo, 20 de dezembro.
Duciomar ficou com medo de não ganhar presente!

Nem mesmo o Banco do Brasil da Presidente Vargas se salvou, sempre com bonitas e elaboradas decorações. Talvez como forma de economizar o que gastam no Círio, resolveram comprar seus enfeites ali mesmo pelo comércio, nas barracas com produtos chineses baratos.
Perderam muito dinheiro com a Crise...

E o que dizer dos "
anjos" reciclados da Estação das Docas? Da última vez que os vi carregavam, em suas angelicais mãos, propaganda de cervejas (uma boa mensagem natalina, Governadora!). Hoje, ao tirar os retratos para este texto, pude ver que o bom senso ganhou mais esta batalha e os anjinho, ante pinguços, agora tocam singelas trombetas.

Com o AA nós conseguimos...

Não poderia deixar de mencionar a decoração da Avenida Nazaré feita pelo Município. Se ganham pontos pela uniformização da decoração, que é a mesma utilizada no Bosque Rodrigues Alves, perdem pontos por terem utilizado enfeites padronizados e de pouca qualidade. É triste ver esses anjos malformados e os dizeres cafonas repetidos por uma das avenidas mais bonitas do País.

ET, viemos em paz...

Para finalizar, gostaria de brindar vocês com três imagens horrendas. A primeira é arvore de Natal feita com restos e que pode ser “admirada” na frente do Mercado de São Brás. A segunda deveria ser a Estrela de Belém, mas parece estar amarrada a outra árvore de restos, e ambas são horrendas! Por fim, o terceiro presente são as imagens de Ananindeua, cidade irmão em cafonice e sempre ferrenha concorrente na disputa pelo título “O Natal NÃO É Aqui”. Os enfeites estão no Viaduto do Coqueiro.


****
P.S.: Acho incrível que não se perceba que Belém fica horrivel aos olhos de todos (menos dos cafonas que a decoram!). Isso só prejudica a imagem da cidade e o conceito que dela fazem os moradores e turistas.

Não seria o caso de se criar uma comissão que, se ao menos nada fizesse, cuidasse de não permitir que se fizesse coisa qualquer?

FOTOS: as fotos são de Wagner Mello debruçado para fora do carro, morrendo de medo dos assaltantes que são donos de Belém.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Palavra do Dia n.º 15

A palavra do Dia de hoje foi escolhida pela singularidade.

Néscio (latim nescius, -a, -um)
adj. Ignorante, inepto. Estúpido.

s. m. Indivíduo inepto.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

#MandeUmaCarta

Esse é o nome do movimento que criei lá pelas bandas do tuítio.
Conversando com os amigos percebemos que aquelas cartas manuscritas e postadas nos Correios não existem mais, raridade absoluta em um tempo de MSN, Orkut, e-mail e celulares com mil funções. Arquitetamos então o seguinte plano: recebi oito endereços e escrevi uma carta para cada, tudo como manda o velho figurino – a ida à papelaria para escolher o papel, os envelopes, canetas; a ida aos correios para selagem das cartas, pagamentos dos selos, colagem dos envelopes!

Acho que escolhemos a melhor época para isso, final de ano sempre movimentado por grandes reflexões.

Mas não se enganem: não é um movimento sério com regras rígidas e pré-estabelecidas. É mais uma brincadeira entre amigos @andersonjor - @luciatupiassu - @michyarrifano - @nanhelima - @FbioCruz - @Alepamplona - @rejanebarros - @lucianecouto) somente com o objetivo de reviver coisas que já se foram.

E olha quem vai entregar sua cartinha... eeee

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Reserva necessária

Belém, 16 dezembro de 2009.

Na loja em que Maria procura seus presentes esbarro em pedaço do meu passado quieto há muito. Demoro a reconhecer o rosto e o sorriso à minha frente, o nome que esqueci em algum canto pouco freqüentado da memória, a voz dos conselhos e brincadeiras que é familiar mas não escuto a um faz anos.

É estranho ver que o tempo tritura minhas coisas tal qual rolo compressor que tudo esmaga, o esfarelar das lembranças sem nem pedir perdão, as pessoas que foram do viver cotidiano agora perdidas, os amigos casados e com filhos, quem moram longe mas vem em breves visitas.

Não lembro quando larguei essas mãos, mas sei que tenho a lembrança em algum canto, intacta, preservada como reserva necessária do que vivi.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Palavra do Dia n.º 14

E a palara do dia de hoje é...

Lúnula (latim lunula, -ae, ornamento em forma de pequena lua)
s. f. 1. Objecto ou figura com a forma de meia-lua. = crescente. 2. Forma da lua quando se aproxima do quarto crescente ou do quarto minguante. 3. Figura formada por dois arcos convexos, voltados para o mesmo lado, que se interceptam!intercetam. 4. Mancha esbranquiçada na base das unhas. = selenose. 5. Satélite de um planeta, especialmente os Júpiter e de Saturno.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Resmungo n.º 02 - Profissões

Não entendo por que algumas coisas mudam! Saia na rua e procure uma cabeleirera, mas fique certo que será mais fácil encontrar uma Hair Stylist ou Hair Design. O nome é chic, pomposo, mas continua sendo a mesma coisa - cortar cabelo. Outra: algum de vocês conhece uma confeiteira, daquelas especializadas em bolos? Sim, mas deve se chamar Cake Design! E não achem que a mudança se deve a frescuras e considerações chics e modernas vindas do inglês, pois pode acabar encontrando, em algum curso, um facilitador ao invés de um professor.

Procurei também uma breve listas de profissões antigas, muitas delas extintas: ferreiro, cocheiro, telegrafista, foguista (que cuidava da fornalha do trem), guarda-freios, tipógrafo, acendedor de lampiões, limpador de chaminé, motorneiro (condutor de bondes), cerzideira (conserto de roupas rasgadas ou gastas), ascensorista, datilógrafo.

E quem sabe o que outras profissões não farão parte desta lista no futuro!?

P.s.: o resmundo é homenagem a Ferreira Gullar e seus resmungos.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Caderneta Telefônica

Na livraria-papelaria (e Belém já quase não tem mais livrarias!) procurei por uma caderneta telefônica, o incômodo que sinto a cada lembrar de que toda minha vida depende do celular, os números e datas que a memória já não comporta, a memória externa e artificial que acaba dominando a todos. Não conheço quem não use dessa forma, o não somente ligar a que todos acostumamos. E na enorme pilha cheia de desorganização, o tirar e por dos diversos modelos de agenda, cores e tamanhos diferentes, não havia nada do que queria. Pergunto à vendedora somente para escutar a resposta impertinente: Para que o senhor quer uma agenda telefônica?, o sorriso piedoso e eu, o besta, antiquado! No final mostrou-me dois modelos, um rosa, com flores, e um laranja, obviamente o escolhido. Agora preciso de tempo para, um por um, passar os contatos e buscar endereços, aniversários, histórias. Escrever em agenda telefônica tem técnica, sabiam? De preferência tudo de lápis, o mudar constante de números e moradas que proíbe rascunhos com canetas, a impossibilidade da borracha. Tudo isso pelo medo de perder o celular e minha vida toda se perder junto!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Como aumentar suas chances de sobreviver a Chuck Norris

Não sou muito de copiar post de outros blos, mas esse do Um Passinho à Frente me impressionou!
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Uma das coisas que muito se discute quando se fala do lançamento de um produto ou de uma campanha é como fazer para competir com os maiores? Com crescer quando se está entre empresas/candidatos muito maiores que você?
Esse texto publicado no
Acerto de Contas permite de forma fácil e simples que entendam que nem sempre a verticalização do insulto é a melhor pedida. Imperdível.

Os truelistas e as chances de cada um
Por Rodolfo Araújo para o Acerto de Contas

Terminando The Art of Strategy, de Avinash Dixit e Barry Nalebuff, outros dois temas muito interessantes sobre Teoria dos Jogos merecem ser descritos aqui. O primeiro deles fala de um truelo mortal. Se você está achando que um truelo é o mesmo que um duelo, mas com três pessoas em vez de duas, acertou. Estão na disputa Clint Eastwood que, por causa da idade, acerta 30% dos seus tiros; Jack Bauer que é bom mas é humano e, por isso, acerta 80% dos disparos; e Chuck Norris que, como sabemos, não erra nunca. Na primeira rodada Eastwood, por ser o mais velho, atira primeiro. Depois é a vez de Bauer e, por fim, Norris. Se for necessário acontece uma segunda rodada, mantendo a mesma ordem. Obviamente que o objetivo de todos no jogo é continuar vivo. Assim sendo, qual deveria ser a estratégia de Clint Eastwood?
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A melhor maneira de resolver o problema é olhar para frente e pensar para trás: 1A. Se Eastwood atira em Bauer e acerta (30% de chance), depois será a vez de Norris que, sem dúvida, vai matá-lo; 1B. Se Eastwood erra o tiro em Bauer, este vai atirar em Norris (para eliminar o mais apto) e, na segunda rodada, ficará entre os dois novamente (30% x 80%). 2A. Se Eastwood atira em Norris e acerta (30% de chance), Bauer atirará nele com 80% de chance de acertar. 2B. Se Eastwood atira em Norris e erra, Bauer vai atirar em Norris e caímos no mesmo desfecho de 1B. Nenhuma dessas alternativas parece promissora para Eastwood, apesar de ele ter a vantagem de ser o primeiro a atirar. Peraí, vantagem? Atirar primeiro pode representar tirar da disputa um inimigo capaz de derrotar o outro inimigo. Assim, por mais ilógico que possa parecer a melhor alternativa para Dirty Harry é atirar para cima! Desta forma, um dos outros dois cai na primeira rodada e Eastwood começa a segunda rodada com 30% de chances de efetivamente sobreviver (Bauer tem 80% de chances de derrubar Norris e, numa segunda rodada, ainda que Eastwood não o acerte, ele tem 20% de chances de errar o Bronco Billy.
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A lição que se tira disso é que, às vezes, a melhor estratégia para o menos apto é permanecer invisível, imperceptível. Desta forma, os maiores lutam entre si e, caso não se matem, ao menos haverão de se enfraquecer mutuamente. Tal artifício aparece com freqüência em disputas eleitorais, quando um dos candidatos fica quieto durante boa parte da campanha, enquanto que aqueles que lideram as pesquisas vão se degladiando. Com o natural desgaste que ocorre nestas situações, quase sempre abre-se uma brecha para que aqueles menos expressivos arranquem na reta final e consigam até certa expressão no resultado final. Um ilustrativo exemplo da velha máxima em que o mais forte ganha do mais fraco; mas o mais esperto ganha do mais forte*.
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*Ainda no tema das eleições veremos, no próximo texto, como o modo de disputa de uma eleição pode influenciar diretamente no seu resultado. Até lá!

Palavra do Dia n.º 13

Da série palavras com sons bonitos. Assim, com vocês, a palavra ganhadora de hoje é:

arrebol
(latim rubor, -oris, vermelhidão, cor vermelha)

s. m.


Cor afogueada que toma a atmosfera antes de o sol nascer ou depois de ele se pôr.
= crepúsculo, lusco-fusco

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Sonhos

Belém, 08 de dezembro de 2009.

Hoje tive um sonho que me impressionou: sonhei com três cobras, umas cascavel, uma jibóia e outra cobra bem pequena. No sonho eu fugia da mais perigosa das três, a cascavel, conseguia capturar a jibóia dentro de um vidro e matava a menor delas.

Fiquei intrigado e fui o google, que sabiamente explicou: sonhar com cobra significa traição de uma pessoa em quem você confia; sonhar fugir de uma cobra significa realização de algo considerado impossível; sonhar matar uma cobra é vitória sobre pessoas que vinham atrapalhando seu sucesso. E quem sonha com isso pode arriscar a sorte no jogo do bicho apostando no burro.

Ou seja: vou ser traido por alguém em quem confio, vou vencer essas pessoas que vinham atrapalhando meu sucesso, e de rebarba vou ganhar na Mega Sena! Maravilha de sonho...


NÃO! Não foi com esse Cobra que eu sonhei..

Resmungo n.º 01 – Meus seguidos raptos!

Belém, 08 de dezembro de 2009.

Hoje fui raptado pela segunda vez sem nem sair de minha casa, somente a sanidade de meus pais que sofre com a violência absurda por telefone, a voz do filho que chora desesperado pedido socorro qualquer que o livre de garras invisíveis. Da primeira vez quase tudo deu certo para os bandidos, a nos salvar o telefonema de última hora que confirmou o almoço com amigos. Mas o pai chorou e não agüentou falar, a perda certa que já lhe tolhia a alma, e a mãe teve tonturas de labirintite, noites mal dormidas.

Tudo isso em todo o lugar, com todos, e ninguém consegue fazer nada, simples interdição de celulares que entrem em presídios, proibição que já existe e ninguém consegue cumprir! Engraçado que não consigo entrar em avião com simples pinça ou tesourinha de unha, mas os bandidos conseguem o que querem, inclusive quase matar meu pai de susto.

P.s.: o resmundo é homenagem a Ferreira Gullar e seus resmungos.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Palavra do Dia n.º 12

Da série palavras com sons bonitos, com vocês, a palavra ganhadora de hoje:

lusco-fusco s. m.

1.
Período em que anoitece. = anoitecer, entardecer, noitinha, tardinhA. 2. Período em que amanhece. = alvorada, amanhecer, madrugada.

Pobre consumidor!

Via Chongas.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Maria e o pássaro

Hoje (03/12/09) minha Maria encontrou um filhote de sabiá e me pediu para criá-lo. Deixei! Ela disse que se não for ela vai ser a pança de algum bicho. Foram 15m no telefone, a história do achamento do pássaro, dos cuidados e dos planos. Pedi pra ela escrever o que achava ter acontecido. Ela me prometeu um livro ilustrado, o pássaro que vê a mãe voar e tenta seguir. Depois, a queda. A Maria do Tanto é mocinha, cheia de argumentos! É sim, argumentos e vontades. Ela me liga e pede sushi, diz que está com saudades e quer me ver.

E Carlos que não chega, e sono que não vem, e casa que não fica pronta!? Vou dormir.
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P.S.: Hoje de manhã Maria me ligou para avisar sobre o falecimento do filhote de Sabiá. Muito triste, me avisou que o enterro será logo mais, no pequeno bosque do residencial Lago Azul. Em 04/12/2009.