segunda-feira, 14 de junho de 2010

"Extorsão é nosso trabalho"

@vercarlosaugust O pagamento aos flanelinhas é um ato social de auxilio a esses trabalhadores mas o pagamento não pode ser obrigatório

@jbritoneto Desculpe @vercarlosaugust, mas pagar flanelinhas não tem nada de social. Eles são uma praga da sociedade. Só querem é ficar à tôa.

O “diálogo” se deu entre duas das pessoas que mais respeito no twitter. Uma é o vereador Carlos Augusto, do DEM, que sempre mostra atitude combativa às mazelas que assolam a capital paraense. Tal respeito também foi conseguido pela “cobertura” do primeiro episódio da cassação do prefeito Duciomar – tudo via twitter – e por sua constante interação com twitteiros, não importa se eleitores ou não. O outro é o José Brito Neto, jornalista paraense radicado em São Paulo e que faz notável trabalho de produção no programa Conexão Repórter do SBT. Ele é um dos responsáveis por matérias memoráveis sobre situações que geralmente estão bem distante dos telespectadores – pelo menos fisicamente.

Na ocasião eu retuitei o Brito Neto, a concordância de que pagar flanelinha não tem nada de social. E por aí terminaria minha singela participação neste “diálogo”, se não fosse a mente que não para de trabalhar e de remoer determinadas coisas.

Sim. Depois de tudo terminado considerei ainda ter algo a dizer:

Não existe a profissão de flanelinha e não existe um trabalho de guardador de carros. Isso é uma imposição feita por desocupados, simples forma de extorsão, obviamente feita de forma menos ou mais intensa dependendo de quem extorque. “Extorsão é o ato de obrigar alguém a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, por meio de ameaça ou violência, com a intenção de obter vantagem, recompensa ou lucro”. É crime, CRIME, tipificado no artigo 158 do Código Penal brasileiro e que não pode ser visto de outra forma. Não há nenhuma espécie de função social no ato de extorquir, pelo que não há nenhuma espécie de função social no ato de solicitar grana, míseros trocados, pela vigília de um veículo parado na rua. Obviamente há o flanelinha que nada faz diante do não pagamento, assim como existe aquele que risca lataria e fura pneu, para não mencionar situações mais graves. Mas tanto um quanto o outro, o que nada faz e o que vira criminoso, ambos praticam a extorsão quando pedem dinheiro pela guarda do veículo, o dinheiro a ser pago pela simples utilização de espaço público para evitar algo pior. Não há função social alguma no ato de guardar carro. Há, isso sim, uma desfunção social de quem permite que flanelinhas existam e façam o que fazem, de quem não permite que estacionemos um carro na rua sem ter medo de tê-lo danificado, de quem maquia as coisas para que obter uma imagem mais branda do que é, na verdade, um crime. Não há brandura em guardar carro, pois que é extorsão, assim como não há brandura em quase todos os crimes. E muito cuidado com isso: começar com tais alegações de função social de atividades incorretas, justificá-las pela necessidade de quem as pratica, esse será o passo derradeiro para uma desordem urbana irreversível – se é que há volta do ponto em que estamos.

Já fomos “dominados” por vans e transporte alternativo, por camelôs e mototaxistas. Se permitirmos tal benesse aos flanelinhas, logo estaremos assistindo manifestação de ladrões pela Avenida Nazaré, faixas em punho, gritando: “Roubar é nosso trabalho”. Não esqueço da pichação vista por mim e por minha mãe em plena Perimetral – Roubar não é crime, é apenas uma profissão não reconhecida - o mesmo que me foi dito pelo ladrão quando do assaltou sofrido no dia 15 de maio de 2010 – desculpa qualquer coisa, esse é o nosso trabalho.

Guardar carro é extorsão e não pode haver qualquer espécie de maquiagem, disfarce ou brandura. Guardar carro e solicitar dinheiro por isso é crime, não tem qualquer espécie de função social. Função social, para mim, é ter o direito de parar meu carro em qualquer lugar sem ter que pagar por isso, um dono da rua que, diante do apossamento, não encontra nenhuma reação por parte do Estado. Eu quero ter o direito de exercer meu direito já existente. Não quero que arranjem um direito para quem está errado, para um criminoso. Quero poder parar meu carro onde quiser e que sumam os guardadores de carro – e se precisam se alimentar, que procurem outra forma não criminosa para resolver esse problema. Quem tem o dever de manter criminoso não sou eu. É o Estado - dentro de presídio!

8 comentários:

Anônimo disse...

Fernando,

Obrigado pelos elogios! Fico feliz em saber que o programa está tendo uma boa repercussão.

Sobre o assunto de flanelinha não há o que discutir. "Reparar" carros não é profissão. Só de pensar que existe um sindicato de lavadores e reparadores de carros, já me tira do sério. A situação fugiu do controle e nos tornamos reféns dessas pessoas, na maioria das vezes, aproveitadores. Uma coisa é você estacionar em um lugar que nunca para e decidir não pagar o flanelinha, outra coisa é você não querer pagar em um local que estaciona diariamente, por exemplo. Vai viver em pânico de encontrar o carro arranhado ou o pior. Gostaria que quem acreditasse no contrário, fizesse um teste: ao se se encaminhar para o carro e ver o flanelinha se aproximando, pergunte para ele qual é o seu carro; se ele responder, pague. Na maioria das vezes, ele vai estar jogando damas ou preocupado sobre onde vai arranjar uma vaga para mais um carro que chega.

Parabéns pelo texto, como sempre objetivo e obrigatório.

Abs,
Brito.

Anônimo disse...

Não me surpreende uma frase tipo esta " O pagamento aos flanelinhas é um ato social de auxilio a esses trabalhadores" vir de um politico kkkk Clássico, nós brasileiros ainda, eu disse ainda, não sabemos escolher quem nos represente...

Concordo sim é com o twitteiro que o rebateu. E tu mandou bem no teu post, mon ami, foi perfeito...

W

Paula Peniche disse...

Também não gosto de flanelinhas: eles se acham os próprios donos das ruas e "semi-donos" dos carros que lá estacionam.

Tanto disse...

Brito, obrigado pelos elogios. Nossa visão sobre o assunto é bem parecida e acho que é a da maioria.

W, como disse no início do texto, o vereador Carlos Augusto é, para mim, um bom político. Me sinto representado e acho sua atuação na oposição marcante. Não gostaria de colocá-lo em uma vala comum de políticos ruins - existem exceções, sempre. No caso dele, esta opinião sobre os flanelinhas, há uma simples divergência de opiniões, nada que diminua minha admiração por ele.

Paula - eles são os donos da rua sim. Quem diz isso é o Estado, quando permite que eles fiquem lá.

Anônimo disse...

Eu concordo em gênero, número e grau. Trata-se de uma DISFUNÇÃO SOCIAL. Como o Estado não dá conta, ele deixa o pepino pra gente.

Eu sempre pago. Em alguns casos fico comovida, em outros, tenho medo de represálias. Ou seja, a gente também se acomoda.

É mais uma triste realidade do nosso Brasil! Triste!

Mari Tupiassu

Tanto disse...

Mari, venha mais vezes aqui. E escreva mais também. Desculpa pelas cobranças, mas isso é amor de irmão.

Anônimo disse...

Devemos evitar certas coisa como dar caráter de função social na esmola e no pagamento do flanela. Tenho medo disso.
AL

Tanto disse...

Verdade, AL. Certos passos não devem ser dados.