segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Pacaja - Do pó vieste, ao pó voltarás.

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Em algum lugar da Transamazônica, 19/10/2009, Segunda-feira.
Acordo cedo para pegar o ônibus para Pacaja, mas falar em ônibus é bondade: na verdade é um micro ônibus, sem ar, desses com micro assentos. O problema é que os passageiros não são micros, e as bagagens são macro.
Os primeiros 20 quilômetros dos quase 230 que iremos percorrer são asfaltados e me permitem sonhar com uma viagem calma e tranqüila - mas logo o asfalto dá lugar a uma estrada empoeirada e perigosa, sem placas ou qualquer forma de sinalização: estou na Transamazônica. A paisagem lembra muito aqueles filmes de bang-bang, tudo desolado, miserável e empoeirado.
O pó que sai da estrada parece definir tudo ao redor, a cor da poeira dominando o mato, as casas, os bichos e as pessoas. Tudo tem a cor da estrada.
Logo adiante, o primeiro carro que cruza conosco causa um estremecimento nos passageiros, pois a nuvem de pó que o segue prenuncia que nós acabaremos a viagem nos confundindo, também, com a paisagem. E o frenesi para fechar as janelas se revela inútil quando, pelas frestas ocultas do ônibus velho, lufadas de poeira nos cegam e calam.
Pronto: eu sou a estrada!
A viagem prossegue, e encaramos uma balsa em Belo Monte (quem deu esse nome é um sacana!), além de paradas em Nazaré, Pau Furado e Anapu, sem contar pequenas agrovilas, fazendas e casinhas.
Chegando próximo de Pacaja, com quase seis horas de viagem, o ônibus pára na porta do hotel localizado na beira da Transamazônica. A paisagem é lunar. Entre o ônibus e a recepção meus passos levantam nuvens do mesmo pó fino que nos acompanhou durante toda a viagem - e que ainda nos acompanhará na pele, nas roupas e no cabelo, pelo tempo em que aqui estivermos.
O hotel é bonito, novo e de bom gosto, verdadeiro oásis no meio do deserto. Dizem que é o melhor daqui, no que acredito, visto que não vi outros hoteis, e tem até piscina. Apesar de tudo é impossível não notar que, apesar de hercúleo esforço de limpeza, mantem-se onipresente uma fina camada da poeira que teima em se mostrar, aviso irrefutável dado pela estrada de que ainda está ali.
E assim chega ao fim a segunda etapa da viagem, após quase seis horas em uma estrada crua, mais litro e meio de água para engolir todo o pó em minha garganta. Depois do banho, que me revela um tom de pele menos avermelhado, o corpo pede arrego e me preparo para uma soneca, não sem antes rabiscar minhas impressões no  caderno, para que não se esvaiam na poeira.

6 comentários:

Mirla Prado disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mirla Prado disse...

Amor te confesso que como te conheço sabia que esta parte do texto. "E o pó que sai da estrada parece definir tudo ao redor, com a cor da poeira dominando o mato, as casas, os bichos e as pessoas. Tudo tem a cor da rodovia",acabaria nesta parte "Pronto: eu sou a estrada!". Muito a sua cara, kkkkkk.

Agora só espero que os nativos de tais lugares tão enaltecidos sejam seguidores ou apenas telespactadores do seu blog, pois vivo uma brave angustia da reação destes, uahuahauahua

Mas em se tratando do texto, como sempre MUITO BOM.

Mauricio Silva disse...

Como tu estas postando?? desde quando o fiofó do mundo tem internet?

TESTE KOINONYA disse...

Sabe, estava aqui a pensar, acho bom encontrar algo URGENTE que tenhas apreciado por aí...
Porque? Simples, se tu conseguiu conexão, algum nativo já dever ter descoberto o que é 'Inclusão Digital' rs

Vai que ele(a) leia esse blog? Se for tão bairrista qto o nosso amigo ProstRobson ...

Oremos parte 2

Luana Castro disse...

E pensar que achava que eram umas 2 horas no máximo de Altamira pra Pacajá kkkkkkk.

Tadinho, Tanto! Cuidado aí, tá?

Beijinhos.

Tanto disse...

Coleguinhas, coleguinhas... Já estou fora da Pacaja e longe da fúria assassina que pode decorrer do texto. Mas o pior é que todos por aqui que leram concordam comigo. O lugar é assim mesmo!

Maurício,

Aprenda uma coisa! Hoje em dia existe internet em todos os lugares, até no cu do mundo!

Beijos