quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Pacaja - Rachel

Pacaja, 20/10/2009, Terça-feira.

A pergunta que ainda não respondi, e que muitos me fazem, é o que vim fazer aqui. Pois bem: meu objetivo é acompanhar Rachel a uma audiência que deve acontecer hoje.
Rachel é funcionária do Banco desde 2007, pessoa de constante bom humor, coração bom, casada há dez anos e mão de um filho de quase três. Somente sua dedicação ao trabalho, e a vontade de prosperar com sua família, justifica que durante todo esse tempo persista na
via crucis semanal entre Anapu (onde trabalha) e Altamira (onde moram marido e filho). E percorrer a Estrada durante todo esse tempo, ora enfrentando atoleiros, ora poeirais, fez com que eu fosse brindado com histórias mirabolantes, que agora repasso:

1. Jabiraca - A Jabiraca era uma Toyota velha que fazia o trajeto Anapu-Altamira, saindo sempre depois de todos os carros e ônibus com o objetivo de se tornar a única e última opção aos viajantes necessitados. Segundo me contou Rachel, as portas eram amarradas e o carro não tinha o vidro da frente. Por conta disso, e da poeira, o motorista usava um daqueles óculos de aviador da 1ª Guerra Mundial, que costumava limpar, vez ou outra, com uma flanela velha; e alguns passageiros, os mais precavidos, usavam panos ou blusas, tal qual máscaras ninjas, o que fazia com que todos parecessem um grupo de doidos. Segundo Rachel, o pior era segurar o riso, pois uma simples risada poderia significar grave engasgo, tal era a quantidade de pó que entrava no carro.

2. A Pedra – Desta vez era um carro mais novo, também do tipo caminhonete. Mas ele tinha algum problema que comprometia sua estabilidade, de forma que a solução “lógica” encontrada pelo proprietário/motorista foi colocar uma enorme pedra na caçamba do veículo, pedra que acabou tomando quase todo o espaço do carro. O problema é que o veículo quadriplicou de peso e, sendo aquela época de chuvas, só enfrentaria atoleiros. E logo no primeiro desafio enfrentado o carro afundou como se fosse um búfalo! Atolado, todos tiveram que sair com suas malas e pisar na lama, enquanto bons samaritanos apareciam para empurrar o carro. Mas não importava o esforço que se fizesse, o bicho não saia da lama! O motorista, apavorado que descobrissem sua pedra escondida, em uma ilhota no meio do lamaçal gritava palavras de incentivo e coragem. E não demorou muito para que alguém notasse a carga clandestina, o que resultou em uma implacável caça ao motorista cara-de-pau pelo meio do atoleiro. E depois de muito corre-corre, os ânimos dos agora imundos linchadores foram apaziguados e a pedra retirada. O carro pode ser desatolado e a viagem prosseguiu, desta vez a não mais que 30 quilômetro por hora para que o instável veículo não saísse voando nas inúmeras curvas da Estada.

2 comentários:

Luana Castro disse...

Gente, o que era a Jabiraca? kkkkkkkkk
Muito engraçado!!

Beijos.

Mirla Prado disse...

Em pensar que meus aviões turboélices me metiam medo, eles tem até frigobar com Coca-cola e agua mineral, uahuahau