A memória que tenho da mamãe nos fazendo dormir é muito viva. Mais frequentemente ela se revela como lembrança do velho apartamento no Ed. Gualo, último andar, de frente para a Praça da República.
Era sempre a mesma coisa, toda noite: na rede do nosso quarto, mamãe no meio com um filho de cada lado, pequenos ainda, as pernas e braços passando por cima do corpo dela como se para ficar mais perto.
Na cadência do rangido da rede ela encaixava o ritmo da musica e tudo acabava virando um som só. Engraçado que o ranger da rede pode ser um barulho insuportável para alguns, sempre com vidrinhos de Óleo de Máquinas Singer nas mãos. Já para mim, rede sem rangido, daqueles baixinhos, quase um gemido, acaba sendo um pouco menos bacana.
Mas voltando aos embalos, cada filho com seu latifúndio, as musicas iam se repetindo num repertório que até hoje é todo ela. Tínhamos nossas canções preferidas, aquelas que calávamos para ouvir com mais atenção; tínhamos também aquelas que preferíamos cantar junto, bem alto. Tinha uma que nos metia medo - e ela cantava somente para ver nossa cara de espanto e rir depois. E tinha umas que não entendíamos, pois eram cantadas em outras línguas - e eu achava mamãe muito inteligente por saber tanta coisa difícil.
Geralmente meu irmão dormia rápido. Eu não! Lutava contra o sono com todas as minhas forças - o que acabava colocando mamãe em uma situação ruim. Quanto mais eu demorava para dormir, mais as musicas ficavam desconhecidas, até que, depois de algum tempo, acabavam virando somente os gemidos de algo que devia ser uma música, mas ela não lembrava a letra.
Era sempre a mesma coisa, toda noite: na rede do nosso quarto, mamãe no meio com um filho de cada lado, pequenos ainda, as pernas e braços passando por cima do corpo dela como se para ficar mais perto.
Na cadência do rangido da rede ela encaixava o ritmo da musica e tudo acabava virando um som só. Engraçado que o ranger da rede pode ser um barulho insuportável para alguns, sempre com vidrinhos de Óleo de Máquinas Singer nas mãos. Já para mim, rede sem rangido, daqueles baixinhos, quase um gemido, acaba sendo um pouco menos bacana.
Mas voltando aos embalos, cada filho com seu latifúndio, as musicas iam se repetindo num repertório que até hoje é todo ela. Tínhamos nossas canções preferidas, aquelas que calávamos para ouvir com mais atenção; tínhamos também aquelas que preferíamos cantar junto, bem alto. Tinha uma que nos metia medo - e ela cantava somente para ver nossa cara de espanto e rir depois. E tinha umas que não entendíamos, pois eram cantadas em outras línguas - e eu achava mamãe muito inteligente por saber tanta coisa difícil.
Geralmente meu irmão dormia rápido. Eu não! Lutava contra o sono com todas as minhas forças - o que acabava colocando mamãe em uma situação ruim. Quanto mais eu demorava para dormir, mais as musicas ficavam desconhecidas, até que, depois de algum tempo, acabavam virando somente os gemidos de algo que devia ser uma música, mas ela não lembrava a letra.
6 comentários:
Delícia de texto, Nando. Sabe, eu também demorava a dormir. Quando pirralha, eu conseguia enganar a família inteira e depois me levantava e brincava sozinha na sala até o dia raiar. De manhã, minha avó me encontrava dormindo nos lugares mais inimagináveis: debaixo da cama dela, atrás da mesa da cozinha e, certa vez, dentro de um pneu.
Beijo,
Elis
Esse texto é lindo, lindo, lindo, lindo! fiquei muito feliz quando o li, e a mamãe também.
te amo mano!
Não sei, não... Mas acho que esse é meu post preferido.
Lindo, lindo!
Se quase te fiz chorar, acabaste de te vingar agora. :) Imaginei a cena com o gemido da rede, tão gostoso que só quem teve infância em Belém sabe como é...
Esse é, sem dúvidas, o meu preferido. Os dois. Não consigo reler e não chorar.
Hj em dia, faço o msm com a minha pequena. Adoro repassar esses momentos para ela, ensinar as canções que mamãe cantava, e mais ainda, adoro ver mamãe fazendo com ela hj o mesmo que fazia comigo.
@francrias
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