Tenho trinta e um anos e já se passaram pelo menos dezoito desde a última vez em que minha mãe me fez dormir.
E no escuro nos embalamos na rede, eu no meio, Carlos e Maria, cada qual num lado. Os dois fazem travesseiros dos meus braços e se olham apaixonados. Ele, pequeno, pega no cabelo da irmã. Ela, já quase grande, me olha com o rabo do olho, cheia de orgulho.
A rede geme e eu gosto. Acho que eles gostam também pois não reclamam. Mas meu pai não gosta e entra no quarto sem falar nada, com um vidro de Óleo de Máquinas Singer nas mãos, e cala a rede. E não consigo mais juntar o compasso do que canto com a cadência da embalada.
Hoje os dois resolveram lutar contra o sono. Ele fala todo o seu pequeno vocabulário de umas vinte e tantas palavras antes de dormir; ela me corrige quando troco os versos das músicas, até que se irrita e resolve cantar no meu lugar.
Por fim, dormem. Eu já estava nas músicas tiradas do fundo da memória, quase chegando aos gemidos de músicas que não lembro a letra. E no balanço já sem força da rede, com meus filhos deitados no meu peito, as pernas por cima de mim como se para me agarrar mais, lembro da minha infância e sinto vontade de chorar. A felicidade de ter tido quem me embalasse em uma rede; de ter tido quem me fizesse dormir ensinando músicas bonitas; de ter tido quem me permitisse olhar apaixonado meu irmão mais novo.
Por tudo isso sinto vontade de chorar, mas não choro! Afinal, foi um trabalhão fazer dormir esses dois e não quero que eles acordem!
(Belém, 03/10/2009)
E no escuro nos embalamos na rede, eu no meio, Carlos e Maria, cada qual num lado. Os dois fazem travesseiros dos meus braços e se olham apaixonados. Ele, pequeno, pega no cabelo da irmã. Ela, já quase grande, me olha com o rabo do olho, cheia de orgulho.
A rede geme e eu gosto. Acho que eles gostam também pois não reclamam. Mas meu pai não gosta e entra no quarto sem falar nada, com um vidro de Óleo de Máquinas Singer nas mãos, e cala a rede. E não consigo mais juntar o compasso do que canto com a cadência da embalada.
Hoje os dois resolveram lutar contra o sono. Ele fala todo o seu pequeno vocabulário de umas vinte e tantas palavras antes de dormir; ela me corrige quando troco os versos das músicas, até que se irrita e resolve cantar no meu lugar.
Por fim, dormem. Eu já estava nas músicas tiradas do fundo da memória, quase chegando aos gemidos de músicas que não lembro a letra. E no balanço já sem força da rede, com meus filhos deitados no meu peito, as pernas por cima de mim como se para me agarrar mais, lembro da minha infância e sinto vontade de chorar. A felicidade de ter tido quem me embalasse em uma rede; de ter tido quem me fizesse dormir ensinando músicas bonitas; de ter tido quem me permitisse olhar apaixonado meu irmão mais novo.
Por tudo isso sinto vontade de chorar, mas não choro! Afinal, foi um trabalhão fazer dormir esses dois e não quero que eles acordem!
(Belém, 03/10/2009)
4 comentários:
Olhaaaa...finalmente um blog!!! Que legal, Tanto! Era uma das pessoas que torcia por isso. Não podias ficar atrelado só ao orkut...merecias mais, já que escreves tão bem!! E isso é só o começo! O teu blog será um sucesso, vais ver!
Luana C.
Rá, perfeito teres um blog.
Comentei essa ' crônica' no orkut...gostei muito. Especialmente do pai entrando, silenciosamente, com o óleo Singer rs. Compactuo da mesma opinião dele.
Uma vez fiz o mesmo com um vizinho, não tinha liberdade e nem cara de pau de ir pessoalmente e deixei passei a secretária a melindrosa tarefa de presentea-lo com um óleo desses. Deus certo! rs
Wagner
Agora eu chorei! AFF!
Oxi, que fofo!
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