Acabo de receber um e-mail indignado da Karina Pombo, leitora deste blog. O relato feito é absurdo por seu desfecho impregnado de descaso e malevolência, mas tirem suas próprias conclusões:
Na terça-feira Vinicius foi parado por quatro homens armados na esquina da José Bonifácio com Conselheiro. É justamente uma das esquinas sem carrinhos de playmobil - pois eles geralmente ficam na José Bonifácio com Mundurucus e, dois quarteirões adiante, na esquina na José Bonifácio com Gentil. Após ser parado e jogado no banco de trás do veículo, Vinicius foi seguidamente agredido com socos e palavrões até que os assaltantes resolveram colocá-lo na mala do carro, perto da Duque de Caxias. Para quem não conhece a vítima, e eu a conheço, se trata de um homem alto e forte que, obviamente, não coube de forma satisfatória no local que lhe era destinado. Por conta disso, do seu não cabimento, levou mais socos e foi obrigado a se arranjar no espaço apertado que lhe impunham. Depois de algum tempo, já livre das agressões, Vinicius percebeu que ainda estava com o celular num dos bolsos esquecidos da calça. Prontamente, entre arranjos e esticadas, conseguiu pegar o aparelho e ligou para quem poderia ajudá-lo - pelo menos era isso que ele achava - o serviço de emergência 190 das polícias Civil e Militar.
Não demorou para ser atendido e foi logo explicando, à pessoa que lhe atendia, o mal que sofria naquele exato momento. Disse ter sido rendido e agredido por homens armados, disse estar preso no porta-malas do carro e pediu que lhe ajudassem. A atendente, diante do desespero da vítima, se limitou a perguntar se ele poderia informar sua localização exata, sendo obvio que a resposta foi negativa. E diante disso, diante do homem que estava em risco e pedia ajuda, diante do homem que teve sorte de não ser executado por ladrões raivosos por um nada, diante disso tudo a atendente do serviço de emergência 190 se limitou a informar que não poderia ajudar e, em seguida, desligou o telefone sem perguntar mais nada, marca ou placa do veículo, sem perguntar mesmo o nome de quem ligava e mesmo sem dizer um "até logo, senhor. Boa sorte". Nada...
Eu poderia terminar o relato aqui, neste ponto, sem escrever mais diante da inexistência de palavras que possam descrever o absurdo que representa a situação acima.
Mas não poderia deixar de informar que Vinicius está bem, que depois de uma hora de pavor e receios foi largado trancado no carro, quase no final da Doca de Souza Franco. Foi libertado por um bom samaritano que, tendo observado a movimentação de longe, acabou por descobri-lo trancado e prestou auxílio que podia.
No dia seguinte ele procurou a polícia e registrou ocorrência. Agora, passado o susto, aguarda a devida movimentação do caso.
E de tudo isso eu pergunto: como pôde um funcionário público ligado à área de segurança pública, respondendo por um sistema de emergência que, em regra, de forma absoluta, deveria prestar auxílio ao cidadão - qualquer auxílio que fosse - desligar na cara de uma pessoa em perigo que, justamente, lhe procurava como tábua derradeira de salvação? Como?
São coisas que só acontecem em Belém, que só acontecem no Pará, os policiais que fizeram juramento de dar sua vida pelo cidadão agindo como crápulas.
E como explicar que tal coisa aconteça numa cidade hiperpoliciada, carrinhos playmobil em quase cada esquina, policiais que recebem, por dia, somente cinco litros de gasolina e que ficam impossibilitados de realizar grandes deslocamentos?
Por sorte Vinicius está bem. Por sorte, não morreu ou levou um tiro, a família que pode festejar a renascença nesta cidade de morte escondida a cada esquina. Porém, por azar, estamos entregues a tais situações, buscar socorro e, diante de uma incapacidade causada pela situação de risco, levar um telefone na cara.
Karina Pombo, que me mandou o relato absurdo por e-mail, faz algumas sugestões:
1. Comprar um GPS, ou celular com tal função, e torcer que os bandidos não o vejam quando do assalto;
2. Caso não tenha como comprar os itens acima, buscar decorar as ruas de Belém e de Ananindeua ao ponto de saber que, do local do assalto, uma para esquerda e duas para a direita, você estará numa determinada rua;
3. Se nenhuma das opções acima der certo reze - mas reze muito - para que o atendente da polícia que estiver de plantão na hora em que você precisar esteja com vontade de trabalhar e possa, se não lhe localizar, ao menos dispensar um minuto em simples e humana atenção.
13 comentários:
Fiquei muda com esse texto. Como isso pode ter acontecido?
em bom português, disseram FODA-SE pra ele
Uma vez solicitei atendimento a um senhor com problemas cardíacos e a atendente solicitou que nós levássemos a pessoa pois não havia ambulância disponível.
Este é o governo que cuida das pessoas, estamos revoltados sim com o descaso deste embuste que está aí e ainda quer ficar mais 4 anos.
Marco Sergio Araujo
Obrigado por publicar, precisava dar vazão a minha indgnação.
Beijos primo amado.
Karina
Que situação absurda, ain da bem que nunca precisei deles senão morria.
Andre Mendes
É lamentável q uma pessoa q trabalha num serviço essencial seja tão despreparada...Porém não podemos julgar o todo pela má conduta de um único elemento. É necessário apurar esse fato e punir o funcionário deliquente.
O Vinícius deve registrar queixa no CIOP para eles abrirem um inquérito administrativo, informando o exato momento que ele ligou: dia e hora. Com isso, o CIOP deverá ver quem estava de plantão naquele dia para saber quem atendeu o Vinícius. O CIOP deve ter registro de todas as ligações que recebe, e quem de seus atendentes recebe! Se o CIOP for um órgão sério, o que com certeza não é depois dessa palhaçada, poderia ver quem atendeu o Vinícius e ai sim punir o atendente de alguma forma. Fui reporter policial e sei que alguns PM's são punidos por seus superiores quando fazem besteira na imprensa. ou eles ficam na "geladeira", ou mudam de ZPol ou batalhão. isso deveria acontecer com o atendente do CIOP. Vicínius, não fique calado. Vá em frente e dê exemplos. Pense que pode existir outros Vinícius no futuro. E com certeza existirá. é indiscutivel. todos vemos a grande insegurança que Belém enfrenta. boa sorte, para todos nós!
Ao ler o texto, soltei um "fala sério! não acredito!"
Mas a desgraça do brasileiro é que nós acreditamos nesse tipo de coisa, porque aqui elas acontecem de verdade, por mais kafkiano que isso possa parecer.
O Liandro exortou o Vinícius a não se calar e o instruiu como agir. Somo a isso outra recomendação, sem a qual as medidas sugeridas podem dar em nada: fazer estardalhaço na mídia. E a campanha eleitoral é um ótimo momento para conseguir toda a atenção dos jornais. Tudo bem que o objetivo deles será oportunista, mas se trata de aproveitar o oportunismo deles.
Felizmente, o desfecho foi menos trágico do que poderia. Saúde e paz para o Vinícius e para nós.
Li.
Indignei-me.
Repassei.
Espero que façam alguma coisa.
Fernando,
É simplesmente revoltante. Pior é que se acionamos os conhecidos nos jornais para noticiar este absurdo, vem a politicalha para falar em violação à lei eleitoral.
Dá vontade de dar na cara - da FDP da servidora e dos administradores inoperantes.
Sorte ao Vinícius.
Obrigado por todos os comentários. Juro que não pretendo fazer deste blog um meio que veicule, somente, matérias ruins e que revelem o lado podre da cidade. Mas infelizmente, parece que tal lado podre começa a contaminar, cada vez mais, tudo ao redor. As coisas chegam à nossa porta e, infelizmente, temos que enfrentá-las.
Ler este relato me fez encontrar-me com o meu eu primitivo: soltei todos os palavrões possíveis e imagináveis para tentar, ao mínimo, demonstrar a revolta com tamanho descaso. Ainda bem que o Vinicius está a salvo, mas poderia ser qualquer um de nós...
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