Ela é branca, tem olhos e cabelos castanhos, 1,60 metros de altura e cerca de 50 quilos. Deve ter aproximadamente 53 anos, mas ninguém sabe ao certo. E como ninguém sabe seu nome, a chamam de Paciente n.º 375, os números que substituem qualquer sinal de passado. A Paciente n. 375 está internada no Hospital das Clínicas da FMUSP, na rua Ovídio Pires de Campos, cidade de São Paulo, e faz parte de legião de pacientes não identificados que se encontram “gerenciados”* nas unidades de saúde particulares, conveniadas e não conveniadas do SUS, tudo sob a organização do Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo. Ao todo, são 79 pessoas sem identificação civil que, por uma razão ou outra, se viram perdidas e encontram-se sem a companhia de um familiar ou amigo. Algumas delas trazem, na face, a marca de condição especial qualquer, os trâmites burlescos que as vezes o cérebro possui e que impossibilitam a lembrança e a volta para casa. Noutras, tão numerosas quanto, é a velhice que marca o rosto, talvez o abandono familiar diante de pesado fardo. Há também quem esteja lá por ser vítima da violência, rostos dilacerados, atingidos de forma quase absoluta pela tragédia ao ponto de se tornarem meros vegetais. Mas há também os jovens, pessoas que poderiam ser este blogueiro ou você, escasso leitor, e que por sua juventude e aspecto de normalidade não deveriam estar ali.
Segundo informações da Folha de São Paulo, 45 destes “gerenciados” estão em hospitais da capital, quatro em Guarulhos, quatro em Santo André, seis em Mogi das Cruzes, uma em Arujá, uma em Santa Rita do Passa Quatro, uma em Campinas, uma em Osasco, uma em Botucatu, uma em Diadema, 11 em Ribeirão Preto, uma em Santos, uma na Praia Grande e uma em Várzea Paulista.
A Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo centraliza tais informações em um site com fotos e informações acerca de procedimentos (para inclusão de novos pacientes não identificados, e para o achamento de pacientes já internados).
* O termo “gerenciamento” é utilizado na Resolução SS-159 de 15/12/2005, do Governo do Estado de São Paulo
2 comentários:
Esse post me lembrou uma situação: na procura por uma igreja para celebrar a missa de 15 anos da minha irmã no ano de 2005, minha mãe acabou por chegar na igreja Pão de Santo Antônio. Eu não estive com ela nesse dia, mas o que ela me contou nunca mais sairá da minha mente.
Quando adentrou a igreja, conheceu o local onde moravam várias pessoas idosas que foram "perdidas" ou pelos fatos da vida ou propositalmente por seus "entes queridos". Minha mãe conversou com uma senhora que chegou a lhe confidenciar: "estou aqui porque minha família me colocou aqui. Tenho esperança que um dia alguém venha me buscar, mas sei que não vão". É um ato de completo abandono e com certeza as pessoas mencionadas no post também possuem "entes queridos" que não mais o fazem por merecer esse título.
Pelo menos vocês tiveram contato com alguém bem tratado, num lugar decente e com tudo necessário para uma velhice mais digna... Fico imaginando quantos desses não moram na rua e não têm nada...
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