quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Resta a reza

T é vigilante de uma agência bancária no interior do Pará. Por conta de sua profissão, já vivenciou dois assaltos - um em 2009, outro em 2010 - sendo que em ambas as ocasiões ele foi feito refém e bastante humilhado. Segundo me relatou, o 1ª assalto foi obra de profissionais (e por isso ele agradece todos os dias). Já no segundo, ele e os demais tiveram que contar com a sorte: inexperientes e nervosos, os bandidos crivaram a agência com tiros de espingarda calibre 12 mas não atingiram ninguém.
Quem julgar T pela aparência terá dificuldades em crer na sinceridade e reconhecimento de seus medos. Mas o homem alto e corpulento, com cara de poucos amigos, armado e vestido com o colete é capaz de assumir seu pavor diante da chegada de pessoas estranhas sem maiores problemas.
Ele relata que fica 'branco como essa parede' (e nesse ponto ele mostra uma das parede com marcas de bala), com o coração na boca ao notar a aproximação de carros desconhecidos - 'principalmente as caminhonetes, as S-10, que são as preferidas dos bandidos', explica.
É por pouco mais de 800 reais que ele deixa, todos os dias, mulher e filhos em casa em rezas e pedidos constantes de proteção, todos eles em angustiante espera por um novo assalto - e um novo assalto é questão de tempo!
A cidade e os arredores estão sob a rigidez do chamado 'Alerta Vermelho' da Polícia Civil. Significa que todos os bancos tiveram vigilância redobrada por conta de informações sobre uma quadrilha que ronda aquelas paragens. Os bandidos só aguardam o momento certo para praticar mais um roubo, e a polícia faz sua parte, tenta identificar suspeitos e lança alertas (naquele exato momento, por exemplo, todos se inquietavam com um suposto Corolla vermelho. Mesmo eu, o advogado de Belém que andava com uma sacola enorme - a inseparável máquina fotográfica, fui visto com olhos estranhos e desconfiança).
Enquanto isso, é T quem vigia a porta de entrada da agência, ele o escolhido para prestar o primeiro combate ou a primeira rendição.
Após o assalto de 2009, a empresa na qual trabalha não ofereceu qualquer espécie de benefício. Já no 2º, o mais traumatizante, disponibilizaram uma psicóloga em Belém, e eles tiveram somente um encontro: 'não tinha como pagar pelas passagem e não tenho onde ficar lá. Ela me ajudou, mas ela está lá e eu estou aqui. Preferi deixar de lado'.
Foi T quem se responsabilizou por estar cedo no local do crime nos dias seguintes aos roubos, a necessidade de se abrir o estabelecimento para contabilizar os prejuízos. 'Depois da segunda vez, pensei seriamente em abandonar o serviço e procurar outro emprego. Mas não posso, nenhum lugar vai me pagar o que pagam aqui. Mas se tiver outro assalto mesmo, um terceiro, e eu sobreviver, juro que não volto no banco'.
E enquanto isso, na pequena cidade de pouco mais de 20 mil habitantes, cercada pelo receio e pela desconfiança, sobram a todos rezas e pedidos de que tudo termine bem.

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