terça-feira, 9 de março de 2010

Resmungo n.º 04 - Anúncios fúnebres

Belém, 03 de março de 2010.

É engraçado como se mede a importância de um morto nessa cidade. O morto, quanto maior a quantidade de anúncios fúnebres nos jornais, mais importante é! Falo do morto que tem toda a parentada mobilizada, a enxurrada de quadrados com os mesmos dizeres colados e copiados, a singela mudança somente nos nomes dos que avisam. Antes, era a família unida que avisava: morreu meu parente querido. Hoje, cada filho, cada empresa, cada amigo, a mesma notícia que se repete como se para mostrar: Viu? Esse era importante! Amanhã, na competição para ver quem tem mais nome, passaremos a ter anúncios separados por filhos; por genros e noras; por netos; empresas, empregados e, por que não, por animais de estimação!? No cálculo geral, qual seria a razão de não valer mais um ponto um singelo: Totó tem a desagradável obrigação de informar a morte de seu dono!? Bobagem achar ter o dever de provar, com o nome do falecido estampado no jornal, o quanto se vale; o nome na folha usado como falsa medida de algo que a ninguém interessa, mera satisfação pessoal dos que ficam, vontade de provar boa e importante ascendência. O curioso, imaginando esse jogo ilusório de orgulho e vaidade, é saber que o morto jaz no caixão, calmo e tranquilo, sem nem saber o que fazem dele... A vida é para os vivos. As vanidades também!

P.s.: o resmundo é homenagem a Ferreira Gullar e seus resmungos.

10 comentários:

Antonio Mokarzel disse...

Mede-se também pelo número de carros na porta do necrotério. Agora, como medir se o finado era um cara querido? É só contar quantos foram à missa de sétimo dia!

Muito bom o post, Fernando.

Anônimo disse...

Adoras mesmo!

Laila disse...

Hoje em dia também é possível ver a popularidade do morto com os diversos arranjos de flores que chegam aos velórios, que passam ser a atração principal ao invés do falecido.

Anônimo disse...

nem depois que morre as pessoas têm paz

Tanto disse...

Antônio, realmente a missa de 7º dia é um importante medidor.

Laila, como pouco vou em velórios, ainda não reparei na questão das flores. Mas ao menos estas são ofertadas de forma espontânea, não são compradas pela família para "fazer volume"! Os anúncios, no jornal, aparecem bem mais.

Anônimo das 13:44 - realmente eu adoro resmungar. Me desculpe.

Anônimo das 16:09 - As pessoas têm paz sim. Quem não tem paz são os familiares, que precisam ficar provando que são "nobres".

Anônimo disse...

mas eu quero velório lotado. Ai de vocês se não aparecerem!

HEhehehehehe

Comentário Bocó.

Anônimo disse...

Por favor, nao pense que reclamei dos seus resmungos! Costumo resmungar bastante tb!

Continue, eh interessante!
:)

Anonimo das 13:44

Tanto disse...

Anônimo das 19:09. Se souber quem é, juro que irei ao seu velório.

Anônimo das 13:44, pode reclamar. O que posso esperar eu, o resmungão. E não levei como reclamação, mas sim como constatação.

Anônimo disse...

O único velório que fui na minha vida foi o de um famoso regional.

Me deixei convencer por um amigo que queria escrever algo no blog dele e na época nao tinha a sua potente Nikon.

Arrependimento... mas deletei todas as fotos qdo joguei no PC e ví o algo dão... aff, melhor parar por aqui.


W

Anônimo disse...

Oquei, continuarei resmungando entao....nao demora para postar?

:)