A afirmação que me chamou atenção foi: "Continuo preso. Fui uma espécie de exemplo de justiça superexposto pela mídia, em um país repleto de impunidade. A verdade é que fiz bobagens, mas sou inofensivo, e por isso as pessoas não têm medo de me agredir na rua. Já chegaram a me cuspir no rosto, em um shopping. Se eu fosse um bandido de verdade, um Marcola, você acha que alguém gritaria 'Assassino!' para mim?" A bobagem foi o assassinato da atriz Daniella Perez, em 28 de dezembro de 1992, com 18 golpes de tesoura (quatro perfurações no pescoço, oito no peito e mais seis que atingiram pulmões e outras regiões).
Notícia do crime
O assassino confesso foi Guilherme de Pádua, colega de elenco da vítima na novela "De Corpo e Alma" (TV Globo, 1992), juntamente com sua mulher, Paula Thomaz. Segundo o homicida, Paula estaria com ciúmes de Daniella e, para provar que não existia um caso com sua colega de elenco, Guilherme a teria atraído para conversar em um matagal onde teve início uma grande confusão que resultou na morte que chocou o país.
No dia seguinte, Guilherme foi um dos primeiros a comparecer no velório da colega de novela, condolências ofertadas ao viuvo, Raul Gazolla, também ator, e à mãe da vítima, a novelista Glória Perez. Descoberto o crime por meio de testemunha que anotou a placa do carro utilizado no crime, Guilherme foi julgado e condenado por homicídio duplamente qualificado, com motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima, mesma pena de Paula Thomaz. Marido e mulher cumpriram apenas seis dos 19 anos a que foram condenados, o que provocou, inclusive, mudança na legislação penal brasileira.
A mãe, Glória Perez, e o viuvo, Raul Gazolla
Livre há quase 11 anos, Guilherme voltou para a cidade natal, Belo Horizonte, virou evangélico e casou. À época da reportagem que serve de base para esse texto (15/10/2006), Guilherme trabalhava para a sua igreja, tinha vergonha de revelar o quanto ganhava e se dizia eterno perseguido, a bobagem que lhe marcou tal qual boi em rebanho de eterna penitência. A nova mulher, Paula Maia, 22 anos, contava não saber, no início, se conseguiria suportar o fardo de se relacionar com um famigerado, no pior sentido da fama. Suportou e casou, festa para 300 convidados, e afirmava: "Hoje vejo que não tinha homem melhor para me casar.Tenho vontade de pegá-lo no colo, protegê-lo, é o meu bebezão." Mas casar foi prova de resistência, relatava Guilherme: "Você acredita que teve uma enquete na TV para saber se eu tinha o direito de me casar?" No final, o repórter Paulo Sampaio pergunta: Você se considera um assassino? A resposta: "Andei fora do caminho de Deus. Na nossa igreja não existe pecadinho e pecadão. Todos estão perdoados, a partir do momento do batismo, mas perdoados por Deus. Na rua, pode-se continuar a pagar..."
Daniella Perez - 11/08/1970 - 28/12/1992
7 comentários:
Com estas tuas postagens, vou acabar virando teu freguês. Já vai para o Arbítrio.
Se puderem, complementem a leitura aqui: http://yudicerandol.blogspot.com/2010/03/nos-primordios-da-obsessao-midiatica.html
pq esse doido não morreu na cadeia? Ela tá morta e o cara curtindo a cvida
O que eu faria se ele estivesse por perto: eu me afastaria.
Mas daí a ofendê-lo, acho que isso não cabe a ninguém. Ele me chocou, não acreditei. Eu tinha 11 anos quando tudo aconteceu.
Acho que ele ainda está pagando pelo que fez: Causa e efeito.
É inevitável que lembremos dele com mágoa no coração, mas não temos o direito condená-lo e julgá-lo.
Ninguém pode ser rotulado por um erro que cometeu no passado.
Eu acho que esses crimes são tão absurdos, tão cruéis, tão inexplicáveis, que não há condenação que chegue.
Por isso mesmo, falar em 9 anos ou em 15 anos, ao meu ver, é quase que a mesma coisa.
Por ex, no caso da Jatobá (caso dos Nardoni) quando ela voltar pra casa o filho que ela deixou com 1 ano já será um rapazinho de 15 (ou coisa assim, por conta da redução da pena que foi de 21 anos e poderá ser diminuída... não sei bem). De toda forma, a vida dela e dos filhos já terá sido suficientemente destroçada e não são 5 anos a mais o a menos na cadeia que mudará isso.
Não sei se me fiz entender, mas acho dificílimo encontrar um meio termo, onde se tenha o sentimento de JUSTIÇA feita, porque a reparação de crimes dessa natureza é absolutamente impossível e nada, nunca mais, vai conseguir mudar o coração de quem mais sofre (pais, mães, filhos sobreviventes). O coração de quem perdeu um amor vai ser sempre um coração ferido de morte, um coração que existe no extremo da dor.
A Glória Peres falou no Fantástico que ela sente que a justiça foi feita, e a mãe da Isabela que agora que a vida dela começará de verdade, o que eu realmente desejo pra ela, porque a dor dessas mães nunca terá fim.
Eu não acho que os assassinos devam ser privados de nada além do que a justiça os condenou, porque nada vai mudar. Nesse caso TUDO é muito pouco. Nem que alguem os matasse como condenação, o crime estaria devidamente pago.
Feita a Justiça os que perderam seus filhos ainda têm que ter força pra recomeçar e continuar a viver.
Bjo
Eu não sei o que faria, mas acho que seguiria as atitudes do anônimo das 11:41 - me afastaria, mas sem condenar ou malhar o judas. Só ficaria longe mesmo, sem nenhum interesse por contato ou me tornar amigo.
Anônimo das 11:21, acho que entendo teu ponto de vista, da revolta. Mas não sei se olho por olho, dente por dente, resolvem.
Jane - Acho que entendi tua colocação... Para os que têm filhos, imaginar a perda é impossível... Assim como deve ser impossível continuar a viver. Mas todos vivem, os que perdem filhos, o que não significa dizer que dor acaba.
Se isso tivesse acontecido no EUA, esse cara tinha sido torrado na cadeira elétrica ou prisão perpétua...
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