Foi um verdadeiro descalabro. De repente os traficantes que eram os donos dos morros cariocas se viram em plena fuga, corrida sorrateira para se esconder e escapar da cana. Muitos foram presos, outros se entregaram. Alguns ainda estão escondidos por ali, por lá, esperando para ver o que fazer. Mas todos eles, quase sem exceção, tiveram de abandonar uma vida inteira para trás - e uma vida inteira, breve vida, de traficante, geralmente significa muitos e caros bens materiais.
Uma foto que me surpreendeu, dentre outras tantas, era assim: o morro sendo ocupado pela Polícia e uns moleques se divertindo em uma piscina bem bonita, no que seria a luxuosa casa de um traficante. Logo imaginei: mas que coisa? O mundo acabando e os filhos do traficante se divertindo. Como assim?
Somente lendo o texto pude entender: a casa realmente era de um traficante. Mas as crianças que se divertiam na piscina, essas não pertenciam ao bandido. Eram crianças da comunidade que, junto com tantas outras pessoas, aproveitaram a fuga dos chefões e resolveram desfrutar do luxo. Acontece que aproveitar, nestes dias sem leis do Rio de Janeiro, não se limitou a banhos de piscina.
Li na coluna do Ricardo Setti que inúmeras residências, que pertenceriam a membros ativos do tráfico, foram limpadas com a rapidez dos que fazem coisa errado. Móveis foram levados, eletrodoméstico foram surrupiados. Até chuveiros, torneiras e maçanetas desapareceram. E diante disso tudo, o que fez o Estado? "Pior do que os saques, porém, foi a atitude de policiais civis e militares diante do que ocorria diante de seus olhos: absoluta indiferença. Comportavam-se como se nada estivesse acontecendo, muito menos crimes. Um deles chegou a dizer a um repórter da Globo: “Ah, o pessoal viu que era casa de vagabundo [forma pela qual normalmente os policiais se referem a criminosos] e começou a pegar as coisas”. Ele estava fardado, protegido por colete à prova de balas e portava uma metralhadora. Não esboçou um só gesto de autoridade, não moveu um só músculo."
Primeiro ponto: todos têm direitos estabelecidos em lei, sejam traficantes ou não. Em fuga ou presos, mortos ou vivos, o que pertence a eles deveria ter sido protegido pela polícia. Permitir que saques ocorram, somente por terem sido perpetrados contra bens de bandidos, não está correto.
Segundo ponto: se os bens foram adquiridos por meio de práticas ilícitas, deviam ter sido preservados pelo Poder Público para que, no futuro, pudessem servir como indenizações, et cetera.
Mas agora é tarde, Inês é morta. Os bens se perderam e muito vão passar um natal mais feliz e rico. Só resta à Polícia carioca requisitar filmagens e imagens para tentar identificar os saqueadores e tomar as devidas providências. Se quiserem, claro. Se quiserem.
2 comentários:
Tanto,
Você tem razão. Deveriam proibir. O ar belicoso que deram pra essa operação trouxe um aspecto anárquico, quase de oba-oba pra um cenário que deveria ser levado a sério. Eu entendo que medidas assim são necessárias naquela região. Nasci no Estado do Rio, sei bem o que a criminalidade faz na mente das pessoas, mas daí a liberar geral, é um absurdo.
Um abraço,
André
O pior, Monsores, é ler o texto logo acima, continuação deste. Com essa bandalheira o Estado acaba perdendo muito, recursos precisos que poderiam ser usados no combate ao que agora se combate. Uma pena.
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