
A mãe sumiu no mundo e deixou para a avó a responsabilidade de criar a pequena, dever cumprido com sacrifício do orgulho, sentimento incompatível com a condição que ela assumiu: “de vez em quando acontece de me mandarem trabalhar, de me chamarem de vagabunda e preguiçosa. Eu não ligo, finjo que não é comigo. Sou conformada com a minha condição. Afinal, quem empregaria uma mulher da minha idade, doente e sem estudo? Tentei durante meses e descobri: ninguém!”
Ela não tem noção de quanto recebe em um mês. Sabe somente que é dinheiro suficiente para mantê-las e para suprir as necessidades mais prementes da casa humilde no bairro da Pedreira.
As melhores épocas para pedir esmola, segundo ela, são o Natal, a Páscoa e o Círio. Motivados pelo espírito coletivo de bondade, os fieis oferecem às pedintes que ficam diante da Basílica cestas de alimentos, roupas e sapatos.
E os mais generosos, segundo ela, são aqueles que freqüentam a missa diariamente, gente que a conhece de sempre estar lá e sabe que não é pessoa ruim. Alguns chegam a oferecer, mensalmente, de cinqüenta a cem reais, espécie de dízimo sem atravessadores.
Generosa mesmo é Maria Odete, mulher que ofereceu seu orgulho à humilhação diária de pedir esmola na escadaria da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, chuva ou sol feito, mulher que engole a seco ofensas e descaso diante do dever de criar a neta.
5 comentários:
Não dou esmola. Sou contra. Não concordo.
Mas te amo mesmo assim e acho tão liiiindo quando você dá esmola.
Mas eu sou contra ;-)
Bocó.
Emocionei-me!
Procurarei por Odete nas escadarias da Basílica.
E a ajudarei com certeza. Bom conhecer algumas mulheres de Belém.
Obrigada.
Anônimo Boco, perceba que não escrevi que dei esmola também. Na verdade, igual a você, sou contra.
Lapha, obrigado. Me ajuda a achar outras mulheres de Belém. Dona Ester ia ser uma boa.
Anônimo das 06:12 - encontre e ajude. Ela é uma pessoa muito legal.
Adoro sua visão das mulheres, Fernando. E que mulheres as que você traz pra cá!
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