quinta-feira, 1 de julho de 2010

Direto de Portugal

Direto de Portugal, onde termina seu Doutorado em Educação pela Universidade de Lisboa, Maria Regina Maneschy manda o interessante relato sobre a Copa, exclusivo para o Domisteco:

Lisboa, 29 de junho de 2010

Navegar é preciso.

Lisboa é uma bela cidade, tranqüila, cordial, apesar da crise. Em algumas coisas, em alguns momentos, em alguns lugares lembra Belém da minha juventude, aqui podemos sair a rua sem ter a certeza de que seremos o próximo seqüestrado.

Porém, agora, Lisboa está mais sossegada do que comumente. É que Portugal enfrenta a Espanha pela copa do mundo de futebol. E só para mostrar o clima com que uma parte dos portugueses vêem esta disputa é ler o editorial do jornal “Destak”, de distribuição gratuita, que encontro sempre à entrada do metro, a começar pelo título, “Preparados para a nova Aljubarrota”.

A editorialista, Isabel Stillwell, começa dizendo que a história se repete e de que hoje, 29 de Junho, os portugueses irão repetir, 625 anos depois, a batalha de Aljubarrota.

Para os mais esquecidos ou desatentos nas aulas de História, Isabel relembra os dados do fato histórico, a importância de construir talvez um novo mosteiro da Batalha, apela a São Jorge, padroeiro de Portugal, e a Santa Maria, repetindo como diz, “um relato empolgado da época”: “os castelhanos pouco puderam fazer mais senão morrer”.

Com certeza é importante reproduzir a articulista para relembrar os fatos de Aljubarrota e, pela comparação, a importância que alguns dão ao jogo. “Recuando no tempo a 14 de Agosto de 1385, pelas sete da tarde (não estou a brincar, foi mesmo), os 31 mil homens do rei Juan I de Castela, que se julgava com direito ao trono português por casamento com D. Beatriz, foram derrotados por um exército de apenas 6500 homens, comandados por D. Nuno Álvares Pereira e D. João I, rei há pouco mais de três meses. Fomos corajosos, determinados e usámos a Técnica do Quadrado, que apanhou de surpresa os soldados do inimigo, levando a que quatro mil ficassem logo ali caídos em batalha e cinco mil fossem feitos prisioneiros”.

Como se vê, lê e se sabe, o futebol não é tão importante assim, não precisamos apelar a São Jorge nem à padroeira de Aljubarrota.

Agora, tudo continua tranqüilo, Portugal perdeu o jogo, porém continua o mesmo Portugal, um povo corajoso e sábio, capaz de, novamente, por mares nunca dantes navegados, construir um novo reino, talvez como se pensou possível no 25 de abril. Hoje, já se faz necessário talvez outro Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável, o São Nuno de Santa Maria, ou simplesmente Nun'Álvares, o símbolo do povo português, para enfrentar esta crise e preparar as naus para navegar para este outro reino.

É bom que no Brasil também pensássemos em preparar nossas naus, como diz o poeta, navegar é preciso.

Regina Maneschy

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