segunda-feira, 5 de julho de 2010

Nossa praga pessoal

Logo que nos mudamos, fomos obrigados a travar uma guerra inglória com exército eficaz e silencioso, verdadeira praga que parecia estar por todos os cantos, escondida, pronta a se aproveitar de qualquer erro para obter mais um vitória: as formigas.

Tal qual guerrilheiros, elas apareciam aos montes por qualquer gotinha de leite esquecida, um bago de arroz indevidamente caído ou embalagem mal fechada. Foram capazes mesmo, as malditas, de furar um saco de presentes e a caixa de chocolates que tínhamos trazido de viagem para um amigo, sem falar de pacotes de miojo e chá, tudo muito rápido e a nos causar a mais completa perplexidade.

O pior de tudo é que moramos em prédio, no sexto e último andar, a lonjura de quintais ou lugares que podiam ser o habitat das pequenas, nós que nos sentíamos como dois cegos em meio àquela guerra.

Pensamos no extremo, fechar as portas e janelas, chamar empresa de dedetização e passar uns dias fora, medida cruel e devastadora tal qual Hiroshima e Nagasagui, ainda mais diante do derradeiro capítulo vivido: certa noite, após um delicioso jantar, Tainá decidiu que não lavaria a louça naquele momento, que deixaria o serviço para o dia seguinte, e se pôs a raspar pratos e panelas, encher de água com detergente tudo que pudesse atrai-las e tudo ficou empilhado na pia. Tainá foi dormir e eu fiquei, vendo filme ou lendo, não sei. Só sei que, quando fui dormir, ao passar pela pia, verdadeiro formigueiro tinha se instalado, elas que vinham de todos os lugares para comer algo qualquer, uma borda esquecida à esponja, tudo em enorme caos.

E assim me vi, duas da manhã, travando batalha com venenos e líquidos mil, formigas pretas – grandes e com um ferrão inclemente - e marrons – pequeninas e sem ferrão, mas sempre em maior quantidade. A batalha de limpeza e morte durou até quase três da manhã. E não sei bem o que fiz, nem se fiz algo, mas desde então as desgraçadas sumiram por completo.

Da mesma forma que apareceram elas sumiram, partida fervorosamente festejada, mesmo que não entendida. No prédio, que eu saiba, nada foi feito para por fim a pragas quaisquer, e a luta travada foi simples, igual aos outros dias.

A única diferença foi ter espirrado bastante veneno pelos lados do fogão, que fica em um nicho no balcão, coisa que não me lembro de ter feito antes. Mas isso, por si só, não seria capaz de acabar com a praga – o lugar é hermeticamente fechado e não teria como elas chegarem por lá. Da mesma forma, pela quantidade de bichos e pela continuidade, o nicho não apresenta espaço suficiente para que elas tivessem feito seu formigueiro por ali. Mais – dias antes, ao perceber a movimentação que vinha pelo lado do fogão, cheguei a tirá-lo todo e nada de estranho percebi.

O fato é que elas sumiram, exterminadas ou não, e já completamos uma semana livres. Fizemos até testes, aos poucos, copos sujos de suco ou embalagens abertas, já vazias, tudo devidamente largado, displicentemente, sobre o balcão.

Ontem foi a verificação suprema: depois do jantar, larguei a louça no estado que estava na pia, só uma rápida raspada dos pedaços sólidos. Fui ver filmes e, horas depois, nem uma mísera formiguinha passeava pelas peças sujas na pia. E se este não é um mistério capaz de abalar o mundo, podem ter certeza que abalou o meu e da Tainá de forma enorme, nós que agora, livres, ficamos diariamente encucados e nos questionando sobre o misterioso sumiço de nossas formigas, penetras em nossa vida.

4 comentários:

Lafayette disse...

Eu sei o que aconteceu, mas não irei falar! réréré

Anônimo disse...

Sofri do mesmo mal, conheci uma solução me enviada por uma amiga da terrinha ( Fortal ) e me livrei rapidinho delas... Simples e barato.
depois te falo kkk

W

Tanto disse...

Lapha, deixa de graça e fala logo. Sou curioso, eu.

W, me passa o remédio, caso elas voltem.

Lafayette disse...

Eu sei... eu sei...