sexta-feira, 16 de abril de 2010

E se...

...Silvio Santos tivesse nascido no Pará.

Silvio Santos teria nascido pobre (como pobre realmente nasceu), acho que no Telégrafo ou Jurunas. Muito cedo teria começado a trabalhar como vendedor ambulante (como de fato trabalhou), acho que no Ver-o-Peso ou no Mercado de São Brás. Não demoraria a ser dono de uma loja e, com um viés bem agressivo, acabaria por ter várias delas espalhadas pela cidade. Ofereceria vantagens inéditas a seus clientes, fruto de uma visão única e bem particular de gerenciamento de empresas. E utilizando seu dom de comunicador, acabaria por ser dono de uma pequena rádio onde teria programa próprio e contaria com grande participação de músicos regionais. Mas logo Silvio teria que enfrentar a concorrência de novas casas comerciais que, utilizando e reciclando as técnicas inovadoras pensadas por ele, acabariam por lhe abocanhar boa parte do mercado varejista paraense. A rádio de Sílvio também ficaria ruim das pernas, a recusa de seu dono ao novo estilo chamado brega. Sílvio, fã confesso de boleros e músicas mais “clássicas” da MPB, acabaria perdendo ouvintes que, cada vez mais, escutariam Reginaldo Rossi e trupe. O golpe final seria a chegada do Axe Music baiano que, invadindo a programação das demais emissoras, passaria como um rolo compressor pela rádio Abravanel FM. Amargando prejuízos e falta de anunciantes, Silvio teria de vender a rádio para um grupo de comunicação do interior do Estado, mais ajustado ao gosto “moderno”. As lojas de Silvio minguariam até sua quase total falência, restando somente um ponto de pequeno porte em canto menos nobre no Comércio. Inconformado com o triste destino de seus negócios, Silvio acabaria por se separar de sua mulher e se tornaria uma pessoa amarga e solitária. Deixaria a administração de sua única loja para suas filhas e iria morar sozinho em uma antiga casa, na São Jerônimo (atual Av. Gov. José Malcher), quase chegando na Praça da República. Diariamente iria vestir uma bermuda de linho, camisa social sem mangas, e se sentaria no Bar do Parque relembrando os bons e velhos tempos de Belém. Se recusaria a ter celular e a escutar rádio, repulsa à última invasão de tecnomélodys, bregas e tecnobregas. Por fim, morreria sozinho e semi-abandonado, se recusando a aceitar o lema: “Belém, terra do já teve”. Seu velório seria simples, em uma das capelas da Beneficente Portuguesa, e curtas seriam suas notas fúnebres: uma da família enlutada. Uma da Loja Abravanel. Uma última de alguns poucos e fieis amigos.

2 comentários:

Anônimo disse...

bem bacana a historia. foi um sonho?

Tanto disse...

Foi um sonho sim. Tenho essa mania de sonhos muito perfeitos, sempre com início, meio e fim. E foi justamente o que aconteceu com o Sílvio paraense.