quarta-feira, 7 de abril de 2010

Breve Manual do Espaço Restrito

O velho ditado de que só sentimo falta de algo quando o perdemos nunca foi tão verdadeira. No caso, a perda foi de espaço, é dele que sinto falta nas complicações diárias de tentar arrumar um pequeno apartamento de forma satisfatória. A bem da verdade, o apartamento não é tão pequeno, mas os problemas existem e têm sido verdadeiros quebra-cabeça. Mentalmente, comecei a elaborar um manual para situações semelhantes, ajuda qualquer para o encaixe das peças que teimam em não combinar. Assim, apresento-lhes o resulta parcial de minhas elucubrações:

1. Meça tudo e tenha sempre uma trena por perto. Tudo tem de ser minuciosamente medido, re-medido e calculado, ou você corre o risco de reformar toda a cozinha e, no final, perceber que a bancada ficou grande e não permite que a porta da geladeira se abra. Para resolver o problema, a solução é simples: coloque a geladeira na área de serviço! Mas na área não há lugar para a geladeira e a máquina de lavar… Neste ponto surge a escolha: roupa limpa ou comida conservada? Obviamente você optará pela comida e, sem máquina de lavar, mais um problema te afligirá: a máquina de lavar, trambolho enorme que não cabe em nenhum outro canto, e a lavagem de roupa que não pode ser feita em casa.

2. Procure móveis sob medida. Nada daquela cama irreal que nem entra pela porta do quarto, ou aquele armário inglês lindo que sua mãe lhe deu, mas que nem fica de pé de tão pequeno que é o pé-direito do imóvel. Contente-se com móveis menores e sonhe com a mudança para a casa maior, o espaço que sobrará e comportará aquele sofá de três peças, a mesa para 12 lugares...

3. Compre móveis e objetos funcionais. Uma boa dica são as rodinhas: tudo que tem roda pode ser facilmente mudado de lugar e re-arranjado, dependendo da situação. Ou seja, entre comprar uma mesa de centro com ou sem rodas, logicamente opte pela última. Reflita ainda sobre a aquisição dos seguintes objetos: um sofá cama, mesmo que você não tenha quem durma lá; ou de cama e sofá com gavetas embutidas na parte de baixo. Certamente não são os modelos mais bonitos, mas você agradecerá por tê-los comprado quando tiver que acomodar aquele primo que veio para o Natal, ou guardar o presente irrecusável que sua avó lhe deu - aquele faqueiro de prata inglesa com 500 peças.

4. Não compre trambolhos. Outro dia vi um forno elétrico que funcionava como grelha e cafeteira (e sabe lá o que mais!?). Era lindo, charmoso e barato, mas era quase do tamanho de um microonda e, de tal forma se mostrava um trambolho, que nem quis conhecer melhor a maravilha. Se você já não sabe onde colocar o botijão de gás, e nem tem uma parede decente para uma televisão, não crie mais uma preocupação com a aquisição de um novo trambolho!

5. Tenha imaginação e ocupe espaços mortos. Ande pelo apartamento e pense, imagine, ouse! Se você olhar bem, vai acabar encontrando alguns espaços que não seriam utilizados, mas que com um pouco de planejamento podem acabar por comportar um bom armário. Vale aquele canto em cima da geladeira, o esquecido vão na sala ou, quem sabe, o espaço que fica sobre sua mesa de estudo. Nessa brincadeira boas idéias podem surgir, e você ainda consegue ameniza, um pouco que seja, o problema com a falta de espaço. E se seus olhos não são treinados o suficiente, pense na possibilidade de chamar alguém para lhe ajudar, arquiteto ou engenheiro, ou mesmo aquele amigo mais criativo e com maior experiência em obras ou reformas.

6. Aprenda a viver com pouco. De nada adianta ter seis toalhas de banho, seis toalhas de rosto, cinco jogos de lençóis e três baldes se você quase é obrigado a dormir no corredor. Quanto mais coisa você tiver, mais espaço vai ter de arranjar para guardá-las. Assim, aprenda a viver com uma quantidade menor, um sábio processo de re-educação de consumo! E isso vale para tudo: objetos pessoais, móveis, livros e comida. No caso de móveis, sobretudo, muito cuidado: se você já mora em um local pequeno, não o deixe menor com móveis que não te permitam andar com a mínima desenvoltura - lembre-se que ali é sua casa, e nada mais desconfortável do que andar na sua sala como se fosse um campo minado, pé ante pé, o cuidado permanente com o quebrar ou trombar com algo (aqui, reler a regra 2, móveis sob medida).

7. Evite coisas que possam significar estresse. Um apartamento pequeno requer um som pequeno, uma televisão pequena… Nada de comprar uma tela plana de 70 polegadas para seu quarto de cinco metros quadrados, ou uma aparelhagem capaz de te ensurdecer, para entreter seus convidados na sala de dois por dois. Fatalmente você ficará com dor de cabeça e acabará por não os utilizar, mais trambolhos que ficarão lá, jogados, lembrete constante de sua incapacidade para lidar com a falta de espaço.

8. Opte sempre pelo que é confortável. Você foi à loja de móveis e viu aquela cadeira linda, toda em couro vermelho e formato de taça de vinho, preço de pai para filho, mas que é dura tal qual pedra. Lembre-se que seu reduzido espaço não permitirá comprar duas cadeiras, o que significa dizer que você e todos os seus convidados serão obrigados a sentar naquela máquina de tortura ad aeternum. Então, quando for comprar um móvel, opte sempre pelo que lhe proporcionar o maior conforto, mesmo que seja o menos bonito ou o menos charmoso, pois você só poderá dispor daquele mesmo (aqui, reler a regra 3).

9. Não acumule trabalho, seja louça suja, seja lixo a retirar. Em uma casa grande, certamente é mais fácil evitar o desagradável encontro com tais relaxos. Mas em uma casa pequena, qualquer coisa fora do local insistirá em lhe encarar de forma ameaçadora. Assim, não acumule trabalho e mantenha tudo sempre em ordem, melhor forma de conviver bem com seu espaço.

10. Tenha uma planta. Plantas não dão muito trabalho e, fora lhes regar e podar, nada mais exigirão de você. Ocupam pouco espaço, além de dar à sua pequena casa um ar mais habitável e confortável. Opte por ter uma planta e você não se arrependerá (e mesmo que se arrependa, é bem mais fácil encontrar um dono para a planta do que para aquele Dog Alemão que você supôs poder manter nos míseros 40 metros quadrados do seu apartamento).

11. Não tenha um bicho. Animais? Evite-os! Em um apartamento muito pequeno, fatalmente um coco ou xixi tomarão grandes proporções, mesmo que seja de um gatinho ou um cachorrinho. Peixes, se não tiverem a água mudada constantemente, resultarão em um constante cheiro de pitiú - e acreditem, trocar a água de um aquário não é coisa simples. Mesmo pássaros, não os recomendo - uma coisa é escutar o canto do sabiá naquela casa de 200 metros quadrados, puro som da natureza perto de você; outra coisa é o canto constante do bicho em um pequeno apartamento de 30 metros quadrados, desgraça aprisionante de não ter para onde escapar. Além disso, lembre-se: animal precisa de espaço próprio e lugar para vasilhas, camas, gaiolas, móveis para aquário, espaço para ração - sem falar na dificuldade já mencionada para arranjar um novo dono para o seu bichinho, no caso extremo de desistência.

São essas as 11 regras que imaginei, em um final de tarde de bagunça e planejamentos mil, o armário que não cabia em local nenhum! Espero que ajudem, espero que me ajudem, e fiquem livres para complementar com novas regras ou observações.

6 comentários:

Helena disse...

Você também poderia sugerir a contatação de um(a) arquiteto(a)! Não costuma sair tão caro e somos "treinados" pra resolver problemas de espaço (ou falta de)!

;)

Bjoo

Helena disse...

Tá, sorry, agora eu vi que no item 5 você menciona a contatação de um profissional!

Mais 1 bjoo

Anônimo disse...

Parabens pelo blog. Super diversificado...ideias mil!

E para todos os gostos: queres chorar? Ha textos! Queres rir? Fotonovelas! Criticas, resmungos, filhos, agendas culturais...

Tudo muito interessante! Voltarei!

Anônimo disse...

Pode fazer um manual de quem mora só?

Tanto disse...

Helena, meu sonho era ter feito arquitetura, e acho que por isso eu me viro bem em reformas e construções. Mas não faria um texto destes sem sugerir a contratação de um arquiteto - são os melhores!

Anônimo das 16:04 - muito obrigado pelas palavras. Tento fazer o melhor, e espero continuar fazendo... E aceito sugestões por e-mail.

Anônimo das 08:59 - pretendo fazer sim, um manual de quem mora só. Mas para isso preciso de mais tempo na casa, para poder dar dicas ou opiniões vividas.

Anônimo disse...

Ah, vc mora so? Entao assim vai poder escrever o manual de quem mora com mais propriedade!

Vamos esperar.