quarta-feira, 21 de abril de 2010

1º Passeio Fotográfico-Gastronômico do Blog Belenâmbulo

Toca o despertador, seco e irritante, no meio da noite. Os olhos que relutam abrir percebem, pela janela, o breu que ainda é dono de tudo. Com o rosto enfiado no travesseiro me pergunto – “Diabos! Por que tocou tão cedo!?” Ainda na cama, vejo acender a luz da sala e minha consciência retorna, lenta e preguiçosa: o passeio! Barulhos! Escuto os grilos e sapos na rua e, no meu banheiro, alguém escova os dentes. Levanto e encontro Wagner Mello já se arrumando - "Vamos?" Volto ao quarto e me visto. De passagem pela cozinha, cato algo qualquer para comer e verifico, pela enésima vez, máquina e pilhas. Beijo quem fica, enrolada em lençóis e fronhas, e partimos. Eram 04h20min da manhã. Já dentro do elevador, o olhar confiante do Wagner Mello me faz crer que tudo correrá como combinado: às 05 h da manhã estaríamos prontos para percorrer a feira e o mercado, provar das delícias e retratar tudo que apaixonasse a vista. Nem mesmo um pneu furado, trocado rapidinho ainda em frente de casa, foi capaz de causar ruindade qualquer: às 05h04min estávamos na frente da Igreja de Santo Alexandre, local marcado como ponto de partida.
Ponto de partida
O convite foi do Wagner Okasaki, do blog Belenâmbulo. A proposta: um passeio fotográfico-gastronômico no sábado, 17 de abril, partindo às cinco da madrugada e que teria como roteiro a Feira do Açaí, Mercado de Peixe, Ver-o-Peso, algumas ruas do Comércio e da Cidade Velha. Quantos mais fôssemos mais seguro seria o passeio. E quanto mais seguros estivéssemos, mais ficaríamos à vontade para aproveitar tudo de belo e encantador do local. Pelas contas do Wagner Okasaki, o organizador, deveriam aparecer umas 10 pessoas. Mas às 05h30min resolvemos iniciar as andanças com os únicos três bravos madrugadores que lá estavam: Wagner Okasaki, Wagner Mello e eu.
Feira do Açaí
A primeira parada foi na Feira do Açaí, lotada de gente e fruto, e passou rápida: pouco tempo depois de chegar, tivemos que voltar ao ponto de saída para encontrar a Shirley Penaforte e o Lafayette Nunes, chegada tardia mas muito desejada, não menos madrugadores do que nós. Agora, em um grupo maior, recomeçamos na Feira aproveitando, com calma e mansidão, a luz e todo o movimento. A Feira do Açaí é algo distante para muitos belenenses e indescritível para os que não moram na cidade. Um mundaréu de frutas que chega pelos rios, um formigueiro de gente que compra e vende e, à margem disso tudo, muita festa - nos bares e bodegas que vivem ao redor da Feira, sol nascendo, ainda dançam insólitos bailarinos ao mesmo tempo em que o trabalho se intensifica. No chão de um bar, um bêbado sujo dorme sono solto, alheio a tudo que corre acordado.
Festa rolando solta, vendedores vendo tudo
Saindo da Feira do Açaí, passamos fotografando a venda de peixe a céu aberto que se monta nas calçadas da Praça do Relógio. Íamos tomando todo o cuidado, que sempre é pouco perto das medonhas narrações de furtos e roubos pelas cercanias. O único que não estava com máquina, Lafayette, vinha sempre por último, olho atento a qualquer movimento suspeito que pudesse significar prejuízo. E sentindo-nos amparados com O Segurança surgido, fotografamos. E eram tantos os tipos de peixe e tantos os tipos de pessoas, que precisamos de atenção para que a visão não se perdesse. Ali há de um tudo: peixes estranhos, pessoas engraçadas, cenas inusitadas, tudo isso esperando quem olhe, e olhamos!
Wagner e Shirley, e nosso segurança, Lafayette
Seguimos até o Mercado de Peixe onde, já mais seguros, passamos a desfrutar das mil histórias que povoam a cachola de nosso segurança. Lafayette parece saber de tudo, de como as coisas eram e como surgiram, quem foram os personagens principais e, por alguns momentos, parece mesmo que ele poderia ter vivido muito do que narrava.
Mercado de Peixe
O Mercado é mais organizado e menos movimentado que a calçada da Praça do Relógio e, por isso mesmo, proporciona a calma necessária para quem quiser caçar boas imagens. Lá nos deparamos com camarões do tamanho de um dedo e peixes que, de tão grandes, mal cabiam na mesa onde eram mostrados.
Rabo de Filhote, medido na mão do Lafayette
Saindo do Mercado fomos, então, ao Ver-o-Peso, famoso mercado onde se vende frutas, legumes e de um tudo - ervas, mandingas, plantas e animais... Já na saída do Mercado optei por me desgarrar do grupo, conhecimento travado com duas figuras que mereceram o desvio e serão retratados em texto futuro - Odemir e Jaci, donos de uma pequena loja de artigos de Umbanda e, ele, o feirante mais antigo do Veropa. Fui laçado novamente ao grupo pelo Wagner Okasaki que, em um átimo a mais de cuidado, voltou para procurar a rés desgarrada.
Café da manhã
Fui encontrar meus companheiros tomando café, tapioquinhas que eram devoradas de forma apaixonada, escorados em bancos de madeira no meio de uma passagem abrigada sob o moderno toldo do Ver-o-Peso. Busquei o mingau de Farinha da Tapioca, lembrança da avó e da mãe, dos tempos da novela Pantanal, e voltei à Barraca da Lúcia, mulher pequena quase do tamanho de suas panelas, preparadeira de delícias que sempre calam minha boca. E nos deixamos ficar ali, meia horinha que fosse, o relaxar depois do estirão pelo meio do povo. Eram 07h30min da manhã. Eu e Wagner Okasaki ainda queríamos tomar uma cuia de açaí, mas optamos por não atrasar mais o passeio, a luz que era perfeita, e decidimos seguir. O organizador, como bom organizador que é, tinha conseguido contato com a gerência do Hotel Ver-o-Peso e, dessa forma, nos foi permitida a subida até seu último andar, terraço com vista majestosa para a cidade - o rio, os mercados, campanários de igrejas e telhados, pessoas, barcos e, lá longe, o mato. Fotos, fotos, fotos e, fôlego retomado, seguimos nosso rumo.
Vista do terraço do Hotel Ver-o-Peso
Quase chegando à Estação das Docas, subimos na Travessa Frutuoso Guimarães até a Praça das Mercês, e mais histórias nos eram contadas pelo Lafayette, que ia explicando placas, nomes e obras. Mais acima dobramos na Rua Santo Antônio, milagrosamente sem muitos vendedores ambulantes, o dia começando que mantém as vendas frias.
Voltando ao ponto de partida
Vimos, com tristeza, um dos mais belos conjuntos de casas em quase total abandono, casas muitas vezes encobertas por horrendas placas de propaganda, todas com gosto duvidoso. E andamos até voltar à Praça do Relógio, agora já lavada e desocupada, sem nenhum sinal do mercado que, antes, ali estava instalado. Pudemos apreciar a beleza do Relógio que antes estava encoberta pelo mar de gente e peixe. E continuando a marcha voltamos ao ponto de partida, já cansados e esturricados.
Praça do Relógio, já sem a feira
Não tínhamos mais condições de continuar pelas ruas da Cidade Velha, pelo que votamos terminar ali mesmo o passeio. Mais algumas fotos, coisa pouca, e nos deixamos ficar sob uma mangueira em frente ao Forte do Castelo. Pedimos águas de coco e ganhamos algumas poucas pupunhas - que logo se tornaram muitas quando passou um vendedor e nos reabasteceu.
Vendedor de pupunhas
Ali mesmo, sentados na Barraca da Loura, acertamos o que faríamos, as postagens e o envio de fotos para comentários do grupo, tudo a ser documentado no Belenâmbulo.
De volta ao começo - Santo Alexandre
E foi assim, com beleza e gostosuras, gente e mistério, que se fez o 1º Passeio Fotográfico-Gastronômico do Blog Belenâmbulo - nome que eu mesmo dei, inventado agorinha, e que espero agradar ao Wagner Okasaki. O resultado, belo!, vimos agora, a troca intensa de e-mail com imagens que seguram. Agora conversaremos e veremos o próximo, não sei se mensal, e esperaremos que mais e mais bravos madrugadores se juntem ao grupo. Belém, uma cidade bela e cheia de mistérios, está aí, portas abertas a quem quiser lhe descobrir.
O grupo

Fotos: minhas, menos a última - do Wagner Okasaki

9 comentários:

Anônimo disse...

Ok, conseguiste fazer com que eu me arrependesse de ter-te dito não.

bocó.

Anônimo disse...

kkkkkk Perfeito texto meu amigo, não poderia ter uma narração melhor do ocorrido... rs

Abraço

W Mello

Belenâmbulo disse...

Concordo com o xará.

No uso dos poderes a mim conferidos, declaro este como sendo o relato oficial do passeio.
As fotos selecionadas pelo grupo serão publicadas no Belenâmbulo logo, logo.

Depois que vocês foram embora, ainda fiz uma caminhada curta com o Lafayette pela Cidade Velha. Foi interessantíssimo fazer a leitura dos respectivos capítulos do livro "História das ruas de Belém", de José Valente, a cada rua por que passávamos. Certamente o aprendizado na escola seria muito mais eficaz e divertido adotando-se esse método pedagógico.
Infelizmente, não tive coragem de levar a câmera para aquele pedaço. Estava sombrio... e por mais de uma vez tivemos de "fazer hora" em algumas lojas, a fim de despistar supostos malandros que nos seguiam. Todas as nossas suspeitas se revelaram injustas. Mas nesse caso é melhor pecar por excesso de cuidado.

Quanto ao nome do passeio, minha sugestão inicial era "turístico-histórico-fotográfico-gastronômico". Um pouco extenso, eu sei...
É... acho que "fotográfico-gastronômico" resume bem o que aconteceu, e o que pode acontecer nos próximos.

Abraço e até a próxima!

... disse...

M A R A V I L H O S O primo!
Vamos combinar o passeio com a crianças no Ver-o-Peso, vai render muitas fotos maravilhosas tbm, e um post cheio de cores!

MUITA saudade!

Um beijo da prima
LoLLie

Yúdice Andrade disse...

A narrativa do evento foi espetacular, Fernando. O organizador já o disse. Eu, que nunca prometi ir, fiquei com a sensação de que adoraria estar com vocês. Mas eu já sabia disso, porque amo esta cidade e gosto de registrar as suas facetas, notadamente as humanas. Penso que isso ajuda a nos humanizarmos, enquanto cidadãos.
Aguardarei as fotos dos demais participantes.

Tanto disse...

Anônimo das 13:23 - não se arrependa de ter perdido esse, mas se lamente se perder o próximo.

Wagners - que bom que gostaram. Vindo de vocês, que lá estavam, significa muito.

Lollie - me deixa pegar bem a manhã do Veropa e marcamos de ir junto com as crianças.

Carlos Barretto  disse...

Sensacional, Fernando!
Na próxima, se os plantões não me engolirem, estarei lá.
Abs

Anônimo disse...

Vou no próximo passeio. Juro que vou. Promeo.

Pris disse...

Adorei. Acabei que fui ver o blog do Belenâmbulo. Adorei tb. Enfim, estou viciada no blog de vcs. Bj, Mãe da Maricota