quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A ronda da morte

Assusto-me ao perceber a ronda constante da morte somente quando ela se instala em minha vida, o sebo que insiste em ficar nas mãos mesmo depois de mil lavadas, o pavor que gruda na mente em contínuo imaginar de coisas que preferimos calar e esconder, o dia em que o choro se tornará inevitável.

Na minha casa a morte chegou aos poucos, a visão que já não era a mesma, a fala que falhava e o andar que ficava cada vez mais lento e ralo. E esse processo, desprogresso, avançou até o momento em que o olhar ficou vazio, em que o calar virou regra e o andar virou um restar no fundo da rede, mera sobrevivência.

Aos sábados fazemos festa, ela sempre ali, rede posta onde estivermos. E diante das tentativas de instigar ela cala e sorri, sorriso que pode ser simples reação de alguém que viveu feliz, resposta que nunca teremos pois o segredo do rir está perdido bem fundo na mente que, agora, já é só silêncio!

3 comentários:

Ana Paula disse...

Estás falando da sua avó?
Se for, xurupicles, sinta-se abraçado por mim, pois acho que nada resolve, né?
beijos, xuxu

Alamir Marinho disse...

Bom amigo.
Imagine quantas imagens indizíveis (de tão maravilhosas) esse "olhar vazio" já contemplou.
Imagine quantas palavras de conforto e sabedoria essa "fala que falhava" já disse.
Imagine em quantos lugares abençoados esse "andar que ficava lento" já pisou.
Espero que nós possamos um dia aprender acerca da vida, essa neblina que passa aparentemente sem sentido algum, o suficiente para compreender cada silêncio de quem já calou, cada olhar que quem já cegou e cada passo de quem já deitou.
Abraço... belo texto

Tanto disse...

A morte ainda ronda, somente ronda, mas é certeira.