sábado, 5 de outubro de 2013

Parada a cidade ficou



29/09/2013

Se vocês quiserem saber como se parece o fim do mundo zumbi, seres sem cérebro, vontade ou discernimento, somente ávidos por carne humana, talvez devessem vir agora até as proximidades da Praça da República. 


Mas, até sugiro, não venham...


As ruas 1º de março, Carlos Gomes e Avenida Presidente Vargas cheiram a urina. O chão está molhado, e não de chuva.


Nas reentrâncias do Basa se instalou, novamente, um banheiro e sexódromo público dos que aceitam se "pegar" no meio da sujeira.

Na Carlos Gomes, chegando à esquina da Presidente Vargas, me surpreendi com dois homens urinando bem ao lado de um ponto de taxi. Enquanto urinam, brincam e falam com a maior naturalidade, como se aquilo fosse a normalidade, enquanto passamos eu e outro vizinho com seu o filho.

Mal sabia que era besteira me surpreender com aqui: havia pessoa urinando na própria Presidente Vargas, quem sabe a principal via da cidade, centro desta capital.

Sim... Mal escondidos pela estrutura armada em fente ao Basa, para servir de palco para o Círio, convenientemente tapada com placas de madeira, estava algo entre banheiro e dark room. Vi muitas mulheres urinando, mas também homens, que, ou urinam, ou não sei que fazem lá, mas estão todos juntos lá.

Mais para frente, na banca de revistas que fica diante da centenária Pharmácia da República, uma menina, que não deve ter 16 anos, completamente embriagada, vomita amparada por amigos que se divertem com a cena. A cara dela quase encosta no chão molhado. Um dos amigos (amigos?) filma tudo no celular.

O cheiro de bebida adocicada, acho que vinho, se mistura com urina e faz surgir um odor enjoativo e pegajoso como xarope.

Para entrar em casa tive que pedir licença, pois havia muitos sentados diante do portão. Havia uma menina deitada no chão, não se importando que o chão estivesse molhado, e nem quero imaginar do que estava molhado. Me olharam feio porque pedi licença. Imagina, entrar em casa agora, aqui, fazendo-os levantar!? Abuso.

E por falar em celular, António, porteiro do prédio desde quase sua construção, lamenta o furto do seu celular e carteira com todos os documentos e parte do salário. É que António chegou na hora em que passava o trio elétrico, então, para chegar na hora, e já estava atrasado, resolveu passar no meio do povo, no meio da chuva. 

António não é novo, o conheço desde que fui criança, e realmente sei que ele vê maldade em poucas coisas. Não viu maldade na multidão. Foi furtado e ficou a ver navio.

Agora, da janela, vejo a Praça lotada, tomada ainda, e tristemente constato várias pessos urinando nas laterais do antigo Sam e dos teatros Da Paz e Waldemar Henrique. Chega um guarda e ilumina as sombras com potente lanterna, mas os mijões nem se movem, quem sabe entorpecidos por fadas verdes?

Alguns focos de briga se formam aqui e ali. Alguns muitos focos de briga e uma surpresa: enquanto saímos de perto em tais situações, vejo a porrada começar e pessoas correndo, se aproximando para assistir, mundo novo de MMAs em que é normal ver duas pessoas se sangrando quase sem regras.

Logo chega a PM ou a GMBel e a briga acaba, e, na confusão de muita gente ao redor, como saber quem eram os galos na rinha? Todos partem caminhando de braços dados com a impunidade.

Muita PM. 

Muitos carros de polícia, tudo identificado, daqui, pelas sirenes iluminando ao redor. Todos parados, somente assistindo, intervindo somente quando a coisa piora. Eles assistem, somente assistem...

Eu também assisto, somente assisto, e também decido que este é o último post que faço relacionado às paradas GLTBS (?) que terminam aqui pela Praça da República, pois percebo que, no final, o chato sou eu, somente eu, e nada muda, vez por vez, tudo como dantes no quartel de Abrantes.

O chato sou eu, o incomodado sou eu, e os incomodados que se mudem, ainda vão me dizer, mesmo que eu não queira me mudar, mesmo que ame morar perto do trabalho e ame meu bairro, onde nasci e cresci, inclusive.

É... Pensando bem, melhor ficar calado.

Só espero que chova, mas que chova bastante, para ver se some o cheiro ruim que a tudo domina.

Só isso.

Um comentário:

Brincando de poesia disse...

Indignação inconformismo dão o tom do teu texto. Aliás, excelente texto.

Parabéns, Fernando.